Por dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá
Certa vez, tinha duas pequenas ilhas, divididas somente por um pequeno canal de água no imenso Oceano.
– Eu sou a mais bonita – dizia uma.
– Eu sou muito maior – dizia a outra.
– Eu tenho a maior praia – afirmava uma.
– As minhas palmeiras são maiores – replicava a outra.
– Você já viu as frutas das minhas árvores? – continuava uma.
– Eu tenho os pássaros mais coloridos do mundo – respondia a outra. A briga durou anos e anos. Com o passar do tempo, as ondas do Oceano, com o seu movimento incessante, trouxeram areia para as duas ilhas que, assim, aumentaram cada vez mais um pouquinho. O canal que as dividia ficou bem pequeno e um belo dia desapareceu de vez. As duas ilhas não ficaram nem um pouco contentes, mas o vento, que movia as ondas disse:
– Antes vocês eram duas pequenas ilhas tristes e briguentas. Agora vocês são a mais bela Ilha do mundo!
Todo ano temos um domingo no qual celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo apóstolos. É sempre a festa da Igreja firme e corajosa, capaz de abrir caminhos novos e de ir ao encontro da humanidade, que se renova a cada geração. Como é possível que a Igreja de Jesus Cristo, e dos Apóstolos que ele enviou, tenha atravessado todos esses séculos? Quantos homens e mulheres tão diferentes já passaram por ela. O que nos deve encantar é a capacidade da Igreja de caminhar junto com a humanidade na sucessão das épocas. Nunca foi e nem será um caminho fácil. A Igreja é tanto pecadora como tudo o que é humano, mas, ao mesmo tempo, tem algo que a torna capaz de mudar, converter-se, reformar-se sempre. Nunca será perfeita, mas nunca deixará de cumprir a missão de evangelizar, também em tempos de silêncio, perseguições e martírios. Essa força, que está no íntimo de cada batizado, mas que também anima a organização visível da Igreja, nós acreditamos que seja o próprio Espírito Santo, último dom de Jesus aos seus amigos. Outras explicações não resistem ao transcorrer do tempo. A Igreja é memória viva, com raízes profundas no passado, mas é também profecia do futuro, capaz de apontar os rumos para chegar ao mundo novo de alegria e paz, iniciado com a vitória de Jesus sobre a morte.
São Pedro e São Paulo são exemplos de vidas doadas, seguidores destemidos do único Mestre Jesus. Cada um com sua personalidade, suas fraquezas e virtudes. Sem dúvida Papa Francisco, hoje, nos ajuda a acreditar numa Igreja que sempre se renova. Papa João XXIII abriu “as janelas” para que entrasse ar novo; os Papas seguintes, um já santo e outro que o será daqui a alguns meses, fizeram a parte deles. No entanto, um pouco de Pedro e Paulo deve estar presente na vida de cada batizado. Cabe a cada cristão reconhecer que é enviado e falar do “Deus desconhecido” lá onde vive e trabalha, luta e faz festa. Ao mesmo tempo, cada um deve saber que não está sozinho; temos laços de fé, de esperança, de amor-comunhão, tão profundos que superam qualquer distância ou obstáculo. As divisões, as disputas, também se para parecer melhores que os outros, não ajudam a Igreja na sua missão. Jesus rezou muito pela unidade dos seus. Hoje, Papa Francisco está nos repropondo um projeto antigo e sempre novo: aquele da “sinodalidade”, que significa simplesmente “caminhar juntos”. Caminhar! Ninguém pode ficar parado. Mas “juntos”, na contramão dos individualismos e particularismos modernos. Os cristãos podem contribuir muito para unir a inteira humanidade. A unidade, tão almejada entre as Igrejas ainda separadas, e entre os tantos projetos de sociedade, não se fará ao redor de ideias, mas com a superação da miséria e da fome de tantos povos, através da partilha dos bens e de um maior respeito pelo planeta, a nossa casa comum. Uma nova humanidade, de irmãos e amigos, desponta no horizonte. É evangelho vivo! Precisamos unir mais os esforços para o bem e não brigar para ser melhores de outros. Na comunhão, não importa ser a Igreja mais bonita. Seremos a única verdadeira Igreja que Jesus queria. Bela, “sem mancha e sem rugas” (Ef 5,27). Para a alegria e a esperança da humanidade toda.