mulher mais bonita
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Uma famosa firma de cosméticos convidou os moradores da capital daquele país a assinalar a mulher que eles consideravam a mais bonita. Em poucas semanas receberam milhares de cartas. Uma, em particular, chamou a atenção dos encarregados da seleção e logo foi apresentada ao presidente. A carta era de um menino com sérios problemas familiares e que vivia num dos bairros mais mal-afamados. A carta dizia: “Tem uma mulher belíssima que mora na mesma rua onde eu moro. Vou visitá-la todos os dias. Com ela me sinto a criança mais importante do mundo. Brincamos de ‘dama’ e ela me escuta quando lhe falo dos meus problemas. Ela me entende e quando a deixo me grita atrás que tem muito orgulho de mim.” O rapazinho concluía a carta dizendo: “Esta fotografia comprova que ela é a mulher mais bonita. Espero, um dia, encontrar uma esposa assim, tão bonita.” O presidente quis ver o retrato. Na foto aparecia uma mulher idosa, sem dentes, sentada numa cadeira de rodas. Os poucos cabelos brancos eram recolhidos num coque e as profundas rugas do rosto ficavam sombreadas pelo brilho dos olhos dela. – Não podemos usar a foto desta mulher – disse o presidente sorrindo – comprovaria ao mundo inteiro que, para serem bonitas, os nossos produtos não servem! –
Uma pequena história para lembrar a todos nós, na solenidade da Assunção de Maria ao céu, que a beleza verdadeira é muito mais que aquela física, aquela das aparências exteriores, tão badala e desejada. Parece, aliás, que uma das indústrias que menos sentiu a crise destes anos, tenha sido, a “indústria da beleza”, tanto feminina quanto masculina. Incluindo as cirurgias plásticas e tudo o mais que visa refazer ou desfazer o que a natureza nos deu. Cuidar do nosso visual e zelar pela nossa ordem pessoal, não significa exagerar e confundir a beleza exterior, visível, com outros tipos de “beleza”: a bondade e o caráter que se manifestam quando sabemos conviver alegres e respeitosamente com os nossos semelhantes.
A festa de Nossa Senhora, porém, nos lembra outro tipo de beleza: a “espiritual” que vem da confiança em Deus. Talvez não seja essa a “beleza” mais almejada, hoje, pelas pessoas, em geral mais atraídas pela fachada do que por aquilo que motiva interiormente as escolhas decisivas da nossa vida. De Maria, temos milhares de imagens e nomes diferentes. No entanto, como de Jesus, não temos nenhum retrato dela. O que parece uma falha, na realidade é uma vantagem maravilhosa, porque cada artista pode expressar de maneira criativa o que, segundo ele, manifesta melhor a grandeza da mãe do Salvador. Toda obra de arte é imaginação e mensagem ao mesmo tempo; apresenta-nos o que o autor queria dizer. A página do evangelho, deste domingo, é também um “retrato” de Nossa Senhora, com o seu ir, às pressas, visitar Isabel e exultar pelas maravilhas de Deus. P or isso, não tenho receio em dizer que o Cântico do Magnificat é o retrato mais bonito de Maria. Não fotografado, pintado ou esculpido, mas “falado” pela fé do evangelista e das primeiras comunidades cristãs.
Em época de autoexaltação, de competição sem limites, Maria é bonita porque humilde. Reconhece que será chamada para sempre de “bem-aventurada, mas foi o Senhor que fez grandes coisas em favor dela e ela acolheu feliz o seu chamado. Maria é bonita porque está junto àqueles que não contam, os pobres e os famintos. Ela está ao lado dos desprezados deste mundo, dos crucificados, como esteve aos pés da cruz do filho, aquele que “não tinha beleza e nem aparência” (Is 53,2). É a beleza do amor e da vida doada, do coração transpassado de Jesus e da “espada” da profecia de Simeão para a alma de Maria (Lc 2,35). Ela é muito bonita porque proclama a santidade e a misericórdia de Deus “para sempre”. É ele que deve ser lembrado e louvado. Não tem outra beleza e grandeza que não s ejam a do amor. Não precisa de cosméticos, porque o amor resplandece por si mesmo. Já neste mundo, às vezes, no outro com certeza e para sempre. Como a glória de Maria.