Agatone e o leproso
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Certo dia, Aba Agatone caminhava rumo à cidade para vender alguns pequenos utensílios de sua produção. Na beira da estrada, encontrou um leproso que lhe perguntou:
– Onde vais? Aba Agatone respondeu:
– Vou para a cidade vender estas coisas.
– Por favor, me leva para lá – continuou o leproso. Assim ele fez. O leproso disse:
– Leva-me onde vendes as tuas coisas. E assim ele fez. Depois de ter vendido o primeiro objeto, o leproso perguntou:
– Quanto foi que ganhaste? O Aba respondeu.
– Compra-me alguma coisa bonita. Ele a comprou. O monge vendeu outro objeto e o leproso novamente disse:
– Quanto foi que ganhaste? Compra-me aquela coisa ali. Agatone a comprou.
Depois de ter vendido tudo, o monge estava para voltar para casa, mas o leproso perguntou:
– Estás retornando?
– Sim – respondeu o monge.
– Por favor, me leva lá onde me encontrou. Assim fez o Aba. Quando chegaram, o leproso disse:
– Sejas tu bendito pelo Senhor, Agatone, no céu e na terra. O monge levantou os olhos e não viu mais ninguém, porque o leproso era um anjo do Senhor que tinha vindo para prová-lo.
As história dos antigos Padres do Deserto nunca deixam de nos surpreender. Ficamos entre a admiração e a dúvida. Será que aconteceu isso mesmo? Pouco importa, o que vale sempre é a mensagem exemplar que nos deixam. No Terceiro Domingo de Advento, deste ano, encontramos uma página singular, só do evangelho de Mateus. É evidente que a “dúvida” de João Batista oferece a possibilidade a Jesus não só de responder como também de explicar muito mais. Com efeito, ele não responde diretamente à pergunta, mas convida a “ver” o que está acontecendo e “ouvir” o que está sendo anunciado. As duas ações se completam. Não basta assistir a algo que nos parece novo ou extraordinário. A maravilha ou o espanto devem ser compreendidos, “interpretados”. De outra forma, podemos nos equivocar. Tanto é verdade que alguns acusaram Jesus de agir pela força do demônio (Mt 12,24).
O objetivo dos sinais e das palavras é a evangelização dos pobres. Tudo isso pode gerar alegria ou escândalo; uns ficam felizes, outros horrorizados. Ainda hoje, as reações à mensagem de Jesus e à sua pessoa oscilam entre o seguimento amoroso e os gritos do “crucifica-o”. Quem pensa escolher a indiferença ou lavar as mãos perde a possibilidade de escolher o seu caminho na vida; acaba assistindo como se tudo fosse um espetáculo, dos outros. Ser cristãos é estar com coragem ao lado de Jesus, aprender com ele a sermos, nós também, boas notícias para os pobres. É muito fácil para todos nós ficarmos encantados com obras humanas faraônicas. Esquecemos as maravilhas da natureza e do seu Criador. Desejamos ou imaginamos “milagres”, como se “Deus” fosse um encantador ou um mágico sempre pronto a resolver os nossos problemas e a “descer da cruz”, para provar que é o verdadeiro messias. Exaltamos as conquistas da ciência e da tecnologia, mas raramente pensamos em quem nos deu e nos dá a inteligência e o saber. Consideramos “ídolos” e modelos a serem imitados pessoas de sucesso, sobretudo se ficaram ricas e poderosas com as suas capacidades. Dificilmente, agradecemos Àquele que distribui todos os dons e o amor que vale mais do que tudo. Não são as obras extraordinárias ou grandiosas que devem chamar a nossa atenção, mas como e para quem elas são realizadas. Somente os pobres, os esquecidos e os pequenos podem dizer se valeu a pena. De outra forma, muito do que fazemos corre o risco de ser um monumento ao nosso orgulho ou uma colaboração vergonhosa com a exploração e a exclusão social. Por isso, um gesto simples e pequeno, despercebido aos outros, mas que nos custe uma vitória sobre o nosso interesse e o nosso egoísmo, é algo extraordinário aos olhos do Pai misericordioso. Seremos julgados somente pelo amor e a generosidade. Todos precisamos aprender a obedecer aos pobres, aos anjos “leprosos” de hoje. Doar-lhes o que eles pedem. Sem questionar tanto.