A audiência do Papa Francisco na Sala Paulo VI conclui a Assembleia Geral da Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, que teve a eleição de uma nova presidente na pessoa de Margaret Karram
|CIDADE DO VATICANO | Por Vaticannews
Francisco convidou o Movimento a continuar seu caminho na “fidelidade dinâmica” ao carisma deixado pela fundadora Chiara Lubich e recomendou a fuga de toda a autorreferencialidade.
Diálogo, abertura aos outros e a superação de qualquer atitude de autorreferencialidade para continuar no caminho indicado pela fundadora, Chiara Lubich, são as principais indicações contidas no discurso do Papa Francisco na Sala Paulo VI, no Vaticano, aos participantes da Assembleia do Movimento que, iniciada em 24 de janeiro, terminou este sábado (06/02). E para encorajá-los em sua tarefa, ofereceu algumas reflexões que resume em três pontos: “o pós-fundador; a importância das crises; viver a espiritualidade com coerência e realismo”.
Fidelidade dinâmica às origens e à escuta do novo
Doze anos se passaram desde a morte de Chiara Lubich e, afirmou Francisco, “vocês são chamados a superar o desencorajamento e também a queda numérica, a fim de continuar a ser uma expressão viva do carisma fundador”. Para isso, continuou, “é necessária uma fidelidade dinâmica”, ou seja, um compromisso de “permanecer fiel à fonte original, esforçando-se para repensá-la e expressá-la em diálogo com as novas situações sociais e culturais”:
A espiritualidade de vocês, caracterizada pelo diálogo e abertura a diferentes contextos culturais, sociais e religiosos, pode certamente fomentar este processo. A abertura aos outros, sejam eles quem forem, é sempre para ser cultivada: o Evangelho é destinado a todos, mas não como proselitismo, é um fermento de nova humanidade em todos os lugares e tempos. Esta atitude de abertura e diálogo ajudará vocês a evitar qualquer autorreferencialidade, que nunca vem do bom espírito. Isto é o que esperamos para toda a Igreja: ter cuidado com o fechar-se em si mesma, o que sempre leva a defender a instituição em detrimento das pessoas, e que também pode levar a justificar ou encobrir formas de abuso, com tanta dor que temos descoberto e experimentado nos últimos anos.
A autorreferencialidade, explicou o Papa Francisco, deve ceder, mesmo no Movimento, à parresía, à transparência, para enfrentar com coragem e verdade os diferentes problemas “sempre seguindo as indicações da Igreja, que é verdadeira Mãe, e respondendo às exigências da justiça e da caridade”.
Toda crise é oportunidade para atingir uma nova maturidade
O segundo ponto é a importância das crises e o Papa enfatizou: não se pode viver sem crises, as crises são bênçãos, para a vida das pessoas e também para a vida das instituições. O conflito, precisou, é negativo, não a crise. E continuou:
Toda crise é um chamado a uma nova maturidade; é um tempo do Espírito, que desperta a necessidade de operar uma atualização, sem desanimar diante da complexidade humana e de suas contradições. Hoje em dia, há muita ênfase na importância da resiliência diante das dificuldades, ou seja, a capacidade de enfrentá-las positivamente, tirando delas oportunidades.
O Papa Francisco continuou explicando que é responsabilidade dos que ocupam cargos de governo “esforçar-se para lidar da melhor maneira, da forma mais construtiva, com crises comunitárias e organizacionais”, enquanto as crises que envolvem a esfera da consciência dos indivíduos exigem “ser tratadas com prudência por aqueles que não ocupam cargos de governo, em todos os níveis, dentro do Movimento”. E prosseguiu dizendo:
Esta tem sido sempre uma boa regra e que se aplica não apenas aos momentos de crise das pessoas, mas em geral ao seu acompanhamento em sua jornada espiritual. É essa sábia distinção entre fórum externo e interno que a experiência e a tradição da Igreja nos ensina ser indispensável. De fato, a mistura da esfera de governo e da esfera de consciência dá origem aos abusos de poder e de outros dos quais fomos testemunhas.
Proximidade fraterna a todos e transparência interna
O terceiro ponto para o qual o Papa chamou a atenção é: viver a espiritualidade do Movimento – centrada na oração de Jesus para que “todos sejam uma só coisa” – com coerência e realismo. E precisou que isto requer um duplo compromisso: fora do Movimento e dentro dele.
No que diz respeito ao agir externo, encorajo-os a serem – e nisto a Serva de Deus Chiara Lubich deu tantos exemplos! – testemunhas da proximidade com amor fraterno que supera todas as barreiras e alcança todas as condições humanas.
É o caminho da proximidade, começando pelos pobres e os últimos, e o de trabalhar em conjunto com pessoas de boa vontade “para a promoção da justiça e da paz”.
Por outro lado, o convite do Papa é promover a sinodalidade, a corresponsabilidade e a participação de todos os membros, no que diz respeito ao compromisso dentro do Movimento. A lógica que deve ser perseguida é a “lógica da comunhão segundo a qual todos podem colocar a serviço dos outros seus próprios dons, suas próprias opiniões na verdade e com liberdade”.
Transformar a dor em luz e esperança
Francisco exortou os membros do Movimento, imitando Chiara Lubich, a permanecerem “sempre ouvindo o grito de abandono de Cristo na cruz, que manifesta a mais alta medida do amor”.
A graça que vem dela é capaz de despertar em nós, fracos e pecadores, respostas generosas e às vezes heroicas; é capaz de transformar o sofrimento e até mesmo a tragédia em uma fonte de luz e esperança para a humanidade. Nesta passagem da morte à vida está o coração do Cristianismo e também do carisma de vocês.
Por fim, agradecendo pelo “alegre testemunho do Evangelho que continuam a oferecer à Igreja e ao mundo”, o Papa abençoou os presentes e confiou todos os membros do Movimento a Maria, Mãe da Igreja.
A saudação de Maria Você ao Papa
O momento de encontro deste sábado na Sala Paulo VI foi especial para o Movimento dos Focolares, e o Papa Francisco aceitou que ela pudesse ser seguida via streaming de todo o mundo. A primeira a falar foi Maria Voce, que dirige o Movimento há 12 anos. Ela o fez para apresentar a nova presidente, Margaret Karram, eleita pela Assembleia Geral da Obra de Maria este 1º de fevereiro, mas sobretudo para agradecer ao Papa por seu apoio e seu “profundo e grande” amor com o qual acompanhou seu trabalho até a passagem do bastão nestes dias. Margaret Karram é católica, nascida em Haifa, Israel, de uma família de origem palestina e que na Terra Santa, tem nas costas uma intensa experiência em ajudar a construir “relações construtivas de paz e verdadeira fraternidade” entre os diferentes povos. Depois, quando chegou a Roma, foi Conselheira da Obra de Maria “para o diálogo entre instituições eclesiásticas, associações, grupos e movimentos, nascidos de carismas antigos e novos na Igreja Católica, colaborando ativamente para uma maior comunhão entre todos”. “Somos gratos ao Espírito Santo por tê-lo escolhido”, disse Maria Voce, antes de passar a palavra a Margaret Karram, “na alegria de poder confiá-la agora, Santo Padre, à sua oração e ao seu amor”.