Apenas sete pessoas pararam

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Reflexão para VI Domingo do Tempo Comum| 14 FEV 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Lv 13,1-2.44-46 | Salmo: 31| 2ª Leitura: 1Cor 10,31–11,1 | Evangelho: Mc 1,40-45

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Em 2007, o violinista Joshua Bell deu um concerto no Teatro de Boston, lotado de apreciadores que pagaram, no mínimo, 100 dólares por ingresso. Dias depois, um jornal decidiu testar a cultura artística dos habitantes. Levaram o violinista para a estação central do metrô. Durante 45 minutos ele tocou Bach, Schubert, Ponce e Massenet. Eram 8 horas de uma manhã fria. Quatro minutos após iniciar o concerto subterrâneo, o músico viu cair a seus pés seu primeiro dólar, atirado por uma mulher que não parou. Durante todo o tempo do concerto, apenas sete pessoas pararam um instante para o escutar. No final, aos pés dele, estavam 32 dólares e 17 centavos. Quem mais lhe deu atenção foi um menino. Porém a mãe o arrastou embora. Quando Joshua parou de tocar, ninguém aplaudiu. Bell era considerado um dos melhores violinistas do mundo. No entanto, fora do Teatro, parecia mais um produto colocado na prateleira errada. Como se o fato de estar num lugar público tornasse a sua música de menor qualidade.

O que pensar do leproso do evangelho deste domingo? Quem dava atenção para ele? Melhor ficar longe. Jesus, porém, sente compaixão, supera as distâncias, estende a mão, toca nele e o cura. O evangelista Marcos continua a nos apresentar Jesus “pescando” os homens. Começou com os religiosos da sinagoga de Cafarnaum, depois encontrou o povo nas casas, nas ruas e agora está “fora da cidade” (Mc 1,45). Significa que o anúncio do Reino não tem limites de lugares, mas também não tem exclusão de pessoas. 

A escolha do leproso é exemplar. Naquele tempo, a lepra não tinha cura. Mas, muito pior, por ser contagiosa e desfigurar os corpos, era considerada uma maldição, um castigo de Deus. Os doentes eram afastados não só da convivência humana, eram também desprezados, como se estivessem pagando por pecados inomináveis. Sabemos que Jesus ensina com o seu modo de sentir e os seus gestos. Ele, ao contrário de quem fugia dos leprosos, fica “cheio de compaixão” pelo sofrimento do homem que no desespero se joga aos seus pés e manifesta sua total confiança. O leproso clama: “Se queres tens o poder de curar-me”. Jesus atende o pedido do pobre, feito com tanta humildade e esperança. Só mais uma cura, como muitas outras? Não, mais um sinal do Reino que, com Jesus, está presente. Todas as curas são para a libertação: de “espíritos maus” que dominavam as pessoas, de males que tiravam da convivência humana, de doenças que impediam a comunicação, pela cegueira, a mudez e a surdez. A cura do leproso tem duas consequências, uma para o curado, outra para Jesus. O homem, agora sadio, desobedece a Jesus e divulga o fato. Dessa vez, porém, não é um espírito mau que está do lado oposto de Jesus. É um pobre homem que não consegue conter a sua alegria, alguém que apresenta a si mesmo como fruto da compaixão de Jesus. Ele, antes amaldiçoado, agora proclama o novo tempo das bençãos de Deus. 

Para Jesus, as coisas são diferentes. Ele tocou no leproso, ficou contaminado – sabemos alguma coisa disso nestes tempos de coronavírus…- se tornou “perigoso”. Só pelo contágio? Não, é porque ele está nos “ensinando” a sermos próximo, está curando as pessoas da pior de todas as doenças: a indiferença, o não querer ver e reconhecer o sofrimento dos outros, o medo de ser incomodados e envolvidos. Jesus “quer” fazer o bem. Esse é um “poder” que todo mundo tem. Basta querer. Todos podemos nos solidarizar com alguém, tornar-nos próximos de alguém. O desinteresse e o descuido afastam, isolam, deixam morrer. A compaixão nos faz carregar o irmão. Hoje, talvez, sejamos nós a poder carregar, amanhã seremos carregados, numa corrente de amor. Infelizmente, nenhuma novidade, depois disso Jesus “ficava fora, em lugares desertos” (Mc 1,45), como o leproso, antes. Ninguém ia visitá-lo? Se os da cidade, onde tinha curado muitos, não o querem mais…outros vêm “de toda parte”. Acontece: às vezes os cristãos, que deveriam saber “reconhecer” Jesus, não o fazem. Outros, surpreendentemente, sim. Poucos conseguem apreciar a música erudita. Mas de compaixão os cristãos deveriam ser mestre e doutores. Exemplos, enfim. 

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