“Com coração de pai”
Estas são as primeiras palavras da Carta Apostólica do Papa Francisco que anuncia o Ano de São José por ocasião dos 150 anos da proclamação dele como padroeiro universal da Igreja. Ficamos felizes, porque São José é também o padroeiro da nossa Diocese. Ele merece toda a nossa devoção. Temos sempre muito a aprender com ele, apesar de um fato que chama a nossa atenção: nenhuma palavra dele é colocada nos evangelhos. São José é um santo silencioso. Nem por isso ele deixa de “falar” com seu exemplo, sua generosidade e humildade. Não faz discursos, mas é o homem “justo” que agrada a Deus.
Refletindo sobre o “coração de pai” de São José, quero lembrar o silêncio de tantos pais, muito diferente daquele do nosso santo exemplar. É o silêncio da omissão ou até do sumiço. Isso acontece quando os pais colocam no mundo os filhos, mas não assumem a própria paternidade. Estão ausentes, na educação e nas necessidades daqueles que eles mesmos geraram. Quantos pais acabam sobrecarregando de responsabilidade as mães deixando-as sozinhas na criação dos filhos. Ao contrário, para certos acontecimentos e obras, há uma disputa acirrada para ser, como diz o ditado, “o pai da criança”. Sobretudo quando isso dá aplausos, holofotes, fama. Nestes casos, falta honestidade e humildade, sobretudo para reconhecer os merecimentos dos outros e não se encher de inútil orgulho. O silêncio da ausência é dolorido e o barulho da propaganda ilude na hora, mas decepciona com o tempo. Nos evangelhos, São José não fala, é verdade, mas cumpre até o fim a missão que o Divino Pai Eterno lhe confia quando lhe pede de acolher Maria como esposa e, junto, o misterioso Filho que ela já carregava.
Hoje, no mundo das redes sociais tudo vira notícia. Não importa se é verdadeira ou falsa, se anima e encoraja ou se revolta e deprime. Estamos numa praça pública onde a curiosidade com a vida dos outros se alimenta de superficialidade, suspeitas e escândalos. No entanto, têm “sim” que não precisam de mais explicações porque surgem da confiança, nascem da familiaridade, se reconhecem no amor simples e fiel de todos os dias. Têm escolhas que as palavras não conseguem explicar, gestos que falam por si mesmos, segredos que só Deus e os “justos” conhecem. Aconteceu com o silêncio de São José. Pode acontecer também conosco quando cultivamos a familiaridade com Deus e com os irmãos, quando rezamos de coração sincero e assumimos confiantes as responsabilidades que a vida nos pede.
+ Dom Pedro José Conti