Tu serás o ancião

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Reflexão para III Domingo da Quaresma| 06 MAR 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Êx 20,1-17 | Salmo: 18| 2ª Leitura: 1Cor 1,22-25| Evangelho: Jo 2,13-25

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Um monge idoso tinha um bom discípulo. Certo dia, ele estava irritado e expulsou de casa o jovem. Este se sentou fora da porta e ficou esperando. Quando o mestre abriu a porta e o encontrou ali sentado, arrependeu-se e lhe disse: “Tu és o meu pai, porque a tua humildade e paciência superaram a minha mesquinhez. Entra! De agora em diante, tu serás o ancião e meu mestre e eu o jovem e teu discípulo. Porque o teu agir correto superou a maturidade dos meus anos”.

A partir deste Terceiro Domingo da Quaresma, encontramos o próprio da Liturgia da Palavra deste ano. Deixamos o Evangelho de Marcos para ler algumas páginas do Evangelho de João, o qual  segue uma reflexão teológica e um esquema temporal próprios. Jesus é a Palavra – de Deus – que se fez carne, é o Filho que o Pai enviou. Aqueles que o encontram devem reconhecê-lo através dos sinais e dos gestos que ele cumpre.

 Depois do primeiro sinal nas bodas de Caná (Jo 2,11), Jesus sobe a Jerusalém e vai ao Templo. Cheio de zelo, com um chicote de cordas, expulsa os vendilhões acusando-os de terem transformado a casa do Pai num comércio. Os judeus pedem explicações e Jesus fala de um Templo “novo” que será o próprio corpo dele. Eles o destruirão, mas “em três dias”, Jesus ressuscitará. Segundo o evangelista João, de agora em diante, quem quiser adorar e servir a Deus, não precisa de um lugar específico mas, sim, de uma pessoa: o Filho que o Pai enviou. Com sua paixão, morte e ressurreição, Jesus é o “caminho” que nos conduz a Deus. Os sacrifícios rituais antigos não servem mais. Para o evangelista João, Jesus morre na cruz, como os cordeiros pascais aos quais não deviam quebrar nenhum osso (Jo 19,36). Agora é ele o Cordeiro imolado que salva definitivamente do pecado e da morte. Qualquer “comércio” é substituído pela gratuidade do amor, pela vida doada de Jesus. Esse amor é oferecido a todos, basta acolhê-lo.

A atitude forte de Jesus com os vendilhões do Templo pode nos surpreender. O que nos interessa, porém, é salientar a coragem e a decisão de Jesus, nem tanto a violência, se assim queremos considerar o seu gesto. Qualquer escolha é sempre a exclusão de outras possibilidades. Se não fosse assim, ficaríamos sempre na dúvida. Talvez acomodados na incerteza, protelando ao infinito qualquer decisão. Toda escolha, sabemos, tem um custo.

O tempo da Quaresma é tempo de conversão. Precisamos tomar a coragem de escolher a quem seguir e em quem, afinal, acreditamos e confiamos. Hoje vivemos um tempo de muitas propostas religiosas, algumas que nos parecem mais atrativas, cativantes e capazes de nos fazer sentir bem. Nesse caso, prevalece o nosso gosto, algo gratificante, mais do que a busca arriscada de um Deus “Outro”, diferente, que desafia as nossas convicções. Outras vezes somos tentados de julgar os nossos irmãos que pensam diferente, achando-nos os únicos certos, melhores, imaginando uma Igreja de perfeitos e iguais, porque todos pensam exatamente como nós. Quando é assim, somos tentados de expulsar os diferentes, achamos de antemão que o diálogo com eles seja improdutivo e que “os outros” não tenham absolutamente nada para nos ensinar. Nem prestamos atenção a quem fala, pode ser até o Papa; se não pensa como nós, está fora. Educadamente, chamamos isso de “polarização”. Um pouco mais honestamente, talvez, deveríamos chamar isso de arrogância ou, infelizmente, de “divisão”, que, lembramos, é o contrário da comunhão. Em tempos em que qualquer um julga e condena qualquer um, é urgente reconhecer quem estende a mão, quem busca escutar, quem está aberto ao diálogo. De outra forma, rapidamente, quem pensa e age diferente deixará de ser um irmão para ser um inimigo que devemos desprezar e do qual devemos fugir. A “comunhão” passa pela humildade, a correção fraterna e o respeito que sempre devemos ter até com quem consideramos errado. Melhor expulsar da nossa vida o orgulho e deixar entrar a humildade. Como fez o sábio monge ancião, que reconheceu a mansidão, a bondade e a paciência do discípulo. Afinal somos todos “discípulos” do único Mestre Jesus.   

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