Reflexão para o V Domingo de Páscoa| 02 MAI 2021 – Ano “B”
1ª Leitura At 9,26-31 | Salmo: 21| 2ª Leitura: 1Jo 3,18-24| Evangelho: Jo 15,1-8
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Contavam por aí que, um tempo atrás, João o Menor ia fazer visitas a um ancião que vivia no deserto de Sceti. Certo dia, o mestre pegou um pedaço de madeira seca, o plantou no chão e lhe disse:
– Rega-o todo dia com uma garrafa de água até que dê fruto. A água, porém, estava tão longe daquele lugar que João devia sair à tardezinha e voltar na manhã seguinte. Três anos depois, a árvore começou a viver e deu fruto. O sábio, então, pegou alguns daqueles frutos e os levou para a igreja. Lá ele disse aos irmãos:
– Tomai e comei os frutos da obediência!
Um caso daqueles nos quais parece impossível acreditar ou que somente aconteciam nos tempos antigos. Hoje não mais. No entanto… No Quinto Domingo da Páscoa, deste ano, encontramos o trecho inicial do cap. 15 do Evangelho de João. É um exemplo tirado da natureza. É mais uma comparação, ou analogia, que Jesus faz de si mesmo para nos ajudar a entender os misteriosos laços que nos unem a ele. O Senhor diz que ele é a videira verdadeira, nós os ramos e o Pai o agricultor. Toda árvore serve se produz fruto, se não o faz, é cortada. No caso da videira, para que produza fruto, são necessárias duas coisas: a primeira, mais do que óbvia, é que os ramos estejam unidos ao tronco, porque é dali que recebem a linfa vital. A outra condição é a poda, absolutamente indispensável no cultivo da videira para que os ramos bons produzam uva gostosa.
O evangelista João, para indicar a união dos ramos com o tronco da videira usa uma palavra-chave do seu evangelho: o verbo “permanecer”. Não é uma união casual ou temporária. É algo permanente, duradouro. Essa “união” se dá pela permanência das palavras de Jesus na vida da pessoa que adere a ele. Entendemos que a linfa vital que passa do tronco para os ramos e que garante a união com Jesus são, justamente, as palavras dele, ou seja, aquela maneira própria de viver e de amar da qual ele mesmo nos deu o exemplo. Isto porque os frutos que eventualmente conseguimos produzir, apesar das nossas infidelidades, não podem ser diferentes da “obra” de Jesus, a vida dele doada por amor com a qual “glorifica” o Pai. Nesse sentido entendemos a “poda” do Pai da qual claramente nos fala Jesus neste evangelho. Logo pensamos em castigos ou coisas semelhantes e ficamos com medo. Os frutos “bons” que interessam ao Pai são aqueles que manifestam e fazem crescer o Reino que Jesus inaugurou. Outras obras, outros frutos, resultado do nosso orgulho e ambição, por maiores que sejam, são como os ramos secos que serão “recolhidos, lançados no fogo e queimados” (Jo 15, 6). Mais uma motivação para procurar sempre “permanecer” unidos a Jesus, porque sem ele não podemos fazer nada. Longe dele não produzimos os frutos que servem ao Reino.
Em tempos de relações superficiais e passageiras, algo muito estável e duradouro nos espanta. Com Jesus deve ser diferente; precisamos nos agarrar a ele, nos segurar nele, beber sempre das suas palavras, para dar algum fruto para o qual valha a pena gastar a vida. Da mesma maneira, não devemos temer as “podas” do Pai, sobretudo se confiamos e acreditamos que servem para nos ajudar a acertar a meta dos nossos esforços e trabalhos. Umas “podas” necessárias hoje talvez sejam aquelas da pressa e da grande organização. Se não vemos logo os resultados, desanimamos e desistimos facilmente. Ou achamos que foram erros de planejamento, que esquecemos algum detalhe, que não tivemos todos os recursos tecnológicos e financeiros necessários, que, talvez, Deus não nos ajudou. Devemos aprender a buscar ao menos uma garrafa de água todos os dias na fonte de água viva que é Jesus, na sua palavra e no seu exemplo. Pelo tempo que for necessário, porque não cabe a nós saber quando e como os frutos bons virão. Uma pergunta: será que o João o Menor, do caso do deserto, não dormia de noite porque ia buscar a água? Muita “obediência” mesmo. Mas, depois, até o galho seco deu fruto. Muita fé também.