Reflexão para o Domingo da Ascensão do Senhor| 15 MAI 2021 – Ano “B”
1ª Leitura At 1,1-11 | Salmo: 46| 2ª Leitura: Ef 1,17-23| Evangelho: Mc 16,15-20
Um navio bateu de repente nuns recifes e uma das suas laterais se abriu. O alarme foi dado com atraso. Contudo a maioria dos passageiros conseguiu correr e pegar os botes de salvamento. Somente dois passageiros ficaram parados nas suas cabines. Chamavam-se: “Não vou dar conta” e “Não tenho nada a ver com isso”. Ambos se afogaram quando a embarcação afundou.
Chegando no final do Tempo Pascal, encontramos duas grandes solenidades: Ascensão e Pentecostes. A Liturgia acompanha o que encontramos escrito no livro dos Atos dos Apóstolos. Essa foi a forma de organizar cronologicamente – e quase visivelmente, no tempo e por etapas – fatos e situações tão novas que ficaram difíceis de ser relatadas aos que viriam depois. O acontecimento da paixão e morte de Jesus já tinha deixado todos os seus discípulos desnorteados e com medo. Tinham largado “tudo” para seguir aquele mestre, talvez cada um com suas expectativas particulares, mas todos encantados com o jeito diferente dele no falar e no agir. Como seria agora a vida deles sem aquele que se tinha apresentado como “o Caminho, a Verdade e a Vida”? Experimentaram momentos de desânimo e tristeza. Porém, novamente, a “ressurreição” do Senhor surpreendeu a todos, desta vez enchendo-os de alegria e esperança. Aos poucos foram entendendo o sentido de tudo quanto tinha acontecido e a extraordinária missão a qual Jesus os tinha chamado e que agora deviam levar para frente.
A “Boa Notícia” de Jesus e o seu mandamento do amor não podiam ficar trancados naquele pequeno espaço onde eles se encontravam fechados e medrosos. A pessoa dele, a sua mensagem, o seu exemplo, eram tão importantes, tão capazes de transformar a vida, de lhe dar um sentido grande e feliz, que, a partir daquele momento, “toda criatura” (Mc 16,15) de perto e de longe, do presente e do futuro, merecia conhecer e experimentar aquele Deus Pai que o Filho tinha desvelado para sempre. Eram poucos, pobres e fracos. Muito mal podiam imaginar o que os aguardava, os caminhos que iriam percorrer, os obstáculos que iriam encontrar para chegar “até os confins da terra”, lá onde Jesus os enviara. No entanto, de jeito nenhum ficaram “parados olhando para o céu” (At 1,11). Voltaram para Jerusalém. A vida deles estava envolvida e entrelaçada, uma vez por todas, com a vida de Jesus, o crucificado, que agora começaram a anunciar como aquele que “Deus constituiu Senhor e Cristo” (At 2,36). Somente a força do Divino Espírito Santo podia explicar tanta paixão e ousadia.
Esta, e não outra, será para sempre a missão da Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus: ir pelo mundo para anunciar o Evangelho (Mc 16,15). Para cumprir essa tarefa precisamos sempre e de novo vencer, ao menos, duas tentações: a de nos esquivar da responsabilidade e aquela de nos julgar incapazes. Seja num caso como no outro o resultado é o mesmo: ficar parados e acomodados em nós mesmos, nos nossos grupos e estruturas. Disputamos para ver quem fala mais bonito, quem tem mais seguidores, quem bate palmas mais forte. A pregação mais importante e valiosa não é aquela que fazemos entre nós, mas o Evangelho que anunciamos com a nossa vida, lá onde o Senhor nos colocou para sermos suas testemunhas. O cristão melhor não é aquele que fala muito de Jesus, mas aquele que vive como Jesus, aquele que sabe escutar o grito do pobre, acolher o irmão diferente, perdoar as ofensas. Quando refletimos sobre tantas situações das quais tomamos conhecimento, sobretudo quando são de sofrimento, abandono, violência e injustiça, devemos nos perguntar se por lá não tem cristãos capazes de agir de maneira mais justa, amorosa e fraterna. Só que o questionamento vale também para cada um de nós, se temos coragem de olhar à nossa família, ao nosso bairro, à nossa cidade. Nem passe pela nossa cabeça que não temos força para mudar as coisas. Onde ficou o Espírito Santo? E, se formos indiferentes, podemos ter certeza de que ele dará entusiasmo e ousadia a outros. Conosco ou sem nós, a missão continua.