Reflexão para o Domingo do XXX Domingo do Tempo Comum| 24 OUT 2021 – Ano “B”
1ª Leitura Jr 31,7-9 | Salmo 125 | 2ª Leitura: Hb 5,1-6| Evangelho: Mc 10,46-52
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Um famoso cirurgião alemão disse aos seus estudantes que para exercer a profissão de cirurgião precisava ter um estômago de ferro e um excelente espírito de observação. Dito isso, mergulhou o dedo num líquido nojento e o lambeu. Convidou cada estudante a fazer o mesmo. Todos tomaram coragem e fizeram o mesmo sem titubear. Em seguida, o cirurgião disse, com um sorriso: “Senhores, parabéns por ter superado a primeira prova. No entanto, não posso dizer o mesmo com a segunda. Ninguém reparou que o dedo que eu lambi, não era o mesmo que tinha mergulhado nesse líquido nojento”.
No evangelho de Marcos deste 30º Domingo do Tempo Comum, encontramos a cura de um mendigo cego de nome Timeu. Na ocasião, acontecem muitas coisas. O que chama atenção são os gritos do cego. Ele está sentado à beira do caminho, mas, evidentemente, não se conforma com a sua situação de exclusão. Quando ouve dizer que estava passando Jesus, o Nazareno, não fica calado. Implora por piedade. Jesus manda chamá-lo e lhe pergunta o que queria dele. “Mestre, que eu veja!” responde Timeu. O cego recupera a vista e escuta o elogio de despedida: “Vai, a tua fé te curou”. O homem, porém, começa a seguir Jesus “pelo caminho” (Mc 10,51-52).
O evangelista Marcos consegue nos fazer participar dos acontecimentos. Facilmente imaginamos a situação. Contudo o objetivo dessa narração, como de outras curas ou “milagres”, não é exaltar os poderes extraordinários de Jesus. Isso, simplesmente, suscitaria nas pessoas o estupor e o espanto. Nada mais, porque a maravilha duraria até chegar alguma pessoa ou coisa que, de verdade ou falsamente, pareça-nos ainda mais surpreendente. O que interessa aos evangelistas é ajudar a entender quem era Jesus para chegar a acreditar nele e segui-lo “pelo caminho”. A visão material dos olhos é útil para o andar humano, mas é somente com a luz da fé que nós conseguimos acompanhar com confiança os passos dele. A sequência dos acontecimentos explica como chegar a esse ponto. Fica claro que a cura, assim como a própria fé, são dons de Deus. É Jesus que abre os olhos ao cego. No entanto não é uma imposição, é um chamado ao qual podemos ou não consentir. Jesus pergunta e aguarda a resposta de Timeu. A fé é um dom que deve ser pedido, porque somente assim se manifesta o nosso desejo de sair de uma situação de distanciamento do Senhor para tornar-nos mais próximos dele.
Quando reconhecemos quem é Jesus para nós e acreditamos nele, ele mesmo vai ser a meta grande da busca da nossa vida, não mais só uma cura, um favor, a solução de um problema. Acontece que procuramos Jesus, Nossa Senhora, algum santo ou santa, a Igreja, para conseguir algo que nos interessa. Uma vez alcançada a meta, talvez agradeçamos com entusiasmo o doador, mas pouco nos preocupa saber o que ele pensa, o que ele nos convida a fazer e a mudar. Também no seu tempo, Jesus foi muito procurado porque curava todo tipo de enfermidade (Mc 1,33-34). O povo queria um curandeiro, não alguém que revelasse o amor do Pai, a presença do Reino de Deus e ensinasse os caminhos estreitos e íngremes da verdade, da justiça e da paz. A luz da fé nos permite enxergar a pessoa de Jesus e não somente o que ele faz, ou deixa de fazer, por nós. Quem encontra e acredita em Jesus começa a ver tudo de maneira diferente. Saúde, dinheiro, bens materiais, conforto e bem-estar, são coisas preciosas, mas ser “amigos” de Jesus vale mais do que todo o resto. As provações, os sofrimentos e até a nossa morte, ganham outro sentido. Jesus quer ser amado e seguido por ser o Senhor da nossa vida e não simplesmente um apoio que nos traz sorte nas horas difíceis. Ele não prometeu resolver todas as nossas angústias.
Mostrou-nos o único caminho que garante a felicidade e a vida plena: o amor, através do serviço e da doação. Jesus não engana, somos nós que ainda não entendemos bem o que ele ensinou. Enxergamos mal ou nada. O de Jesus era o dedo certo, o dedo de Deus (Lc 11,20). Somos muitos que não reparamos nisso.