Reflexão para o Natal do Senhor | 24 DEZ 2021 – Ano “C”
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Neste ano, o Natal cai no sábado e, logo em seguida, no domingo, celebraremos a Sagrada Família. Teremos uma boa oportunidade para contemplar, no Presépio, aquela família especial: Maria, José e o recém-nascido, o menino Jesus. Depois, em muitas das nossas casas, poderemos ver, admirar ou, simplesmente, observar as nossas famílias reunidas. Algumas alegres; outras, ao menos, juntas, deixando de lado os conflitos e as incompreensões; outras, enfim, com saudade daquele ou daquela que não está mais ali. Vale a pena nos perguntarmos: o que quer dizer Jesus veio para nos salvar? Nos salvar de quê? Salvar as nossas famílias? Quais famílias? “Salvar” supõe que alguém esteja em perigo. Por isso, a resposta que nós damos como a mais certa é que Jesus veio para nos salvar do pecado. Mas, hoje, todos nós temos dificuldade para entender claramente o que é “pecado”. Com base em quê admitimos fazer algo errado? Se a nossa referência é o pensamento que entendemos “de todos”, corremos o perigo de achar que violência, corrupção e mentira, por exemplo, sejam toleráveis, corriqueiras e, talvez, impossíveis de se erradicar. Por isso, vou tentar dizer, em poucas palavras, de quê o Senhor Jesus veio nos salvar, ao menos se, ainda, temos um pouco de fé e achamos realmente extraordinário que aquele a quem nós temos a ousadia de chamar de “Deus” tenha se envolvido tanto assim com a nossa humanidade.
Em primeiro lugar, Jesus veio nos salvar da falta de esperança. Estamos desistindo de querer construir uma convivência humana mais fraterna e solidária. A corrida ao enriquecimento, a indiferença com o sofrimento dos pobres, a fuga num mundo virtual, acabam adormecendo as nossas consciências e nos levam a concluir não ter mais jeito, que é inútil lutar por um mundo mais justo e solidário. Jesus não resolveu todas as questões e nem implantou um sistema ideal. Apontou-nos, porém, uma meta e nos ensinou o caminho. O “reino de Deus” que ele anunciou é um projeto. Não é algo que vem já pronto de fora, é algo com o qual nós podemos contribuir, mas só na condição de nos envolver totalmente, ou seja, de acreditar nele e sermos dispostos a gastar tempo e energia para isso. A paz e a justiça nunca vão acontecer se nós, um por um, não acreditarmos que sejam possíveis e que devemos ser nós a começar, justamente lá onde a vida nos colocou. O Filho de Deus Pai “veio” na carne humana, aceitou as nossas fraquezas e limitações, menos o pecado. Quis ser criança, aprender aos poucos, descobrir sua missão no silêncio e na oração, na intimidade com o Pai, mas também buscou respostas e sentidos junto aos discípulos, aos sofredores que clamavam, e até se confrontando com aos adversários que o desafiavam.
Outra questão fundamental: declarou que tinha vindo para “anunciar a boa notícia aos pobres”, ou seja, alertava que o Reino ia começar pelos pequenos, os humildes, os pastores do Natal, os doentes excluídos, os pecadores julgados e condenados. Não teve receio de sentar-se à mesa dos pecadores para deixar entender que a todos é possível recomeçar e reverter situações aparentemente esclerotizadas. Por fim, surpreendente maravilha, o nosso Deus, feito carne em Jesus, aceitou ser crucificado como um malfeitor qualquer, passando vergonha e escárnios. Tudo para não desistir do seu amor manifestado com as suas palavras e, sobretudo, nos encontros com aqueles e aquelas que eram considerados indignos de atenção e, portanto, da compaixão misericordiosa do Pai. Para iniciar o “reino de Deus”, Jesus não escolheu meios poderosos ou pessoas importantes, não esperou que esses mudassem a maneira deles de pensar e agir. Acreditou que os pequenos, eles sim, podiam começar algo novo. Foi inútil ilusão ou verdadeira esperança?
Hoje cabe a nós dar esta resposta. Mais uma vez, a humildade do Presépio nos ensina a escolher a simplicidade. No entanto, algo grande e profundamente interior deve acontecer: a conversão do nosso coração à força da esperança. Natal é para não desistir de seguir o Senhor, sempre. Também quando se apagarem as luzes da festa.