Um jovem caminhava com um dos seus amigos. Enquanto caminhavam, encontraram um par de sapatos velhos ao lado da trilha. Vendo um trabalhador próximo, entenderam que os sapatos pertenciam a ele. O homem estava acabando seu trabalho daquele dia. Voltando-se para o amigo, o jovem sugeriu:
– Vamos pregar uma peça no velho. Vamos esconder os sapatos dele, depois ficamos atrás destes arbustos e observar a reação dele.
– Você acha mesmo que devemos fazer isso? Perguntou o amigo. Por que não surpreendemos o idoso colocando algum dinheiro em cada sapato e depois observamos sua reação quando o encontrar? O outro jovem não ficou entusiasmado, mas acabou concordando com a ideia. Quando o pobre homem concluiu o seu trabalho e calçou os sapatos, sentiu alguma coisa diferente por dentro. Surpreso, viu o dinheiro e se ajoelhou para a gradecer a Deus por ter provido ajuda para sua família tão necessitada.
-Você não se sente mais feliz, por ter ajudado um velho trabalhador, em vez de ter-lhe pregado uma peça? Cochichou o amigo. O jovem concordou.
Neste Segundo Domingo do Tempo Comum, encontramos uma página tradicional de começo deste tempo litúrgico: as chamadas “Bodas de Caná”. Nela aparece o primeiro dos “sinais” que servem, do jeito próprio do evangelista João, para fazer conhecer quem é Jesus. Uma página, aparentemente narrativa, mas tão cheia de símbolos e referências ao Antigo Testamento que, se não forem levadas em conta, podem esvaziar a beleza do texto e reduzi-lo ao “milagre” da água transformada em vinho.
O primeiro “símbolo”, ou figura, é o próprio casamento por ser uma “aliança” entre duas pessoas que se acolhem entre si, porque se amam. Essa é uma comparação antiga, cara aos profetas, do amor preferencial que Deus tem com o povo eleito. Agora, porém, algo “velho” acabou (“não tem mais vinho”) e algo “novo” está começando. Com a imagem do casamento, o evangelista João anuncia a “nova” aliança entre Deus e o seu povo, concluída entre o Filho que o Pai enviou e um povo novo, representado, neste caso, pelos diversos convidados. Entre ele, estão os primeiros discípulos que, por enquanto, assistem à passagem do velho (a água nas talhas de pedra) ao novo (o vinho melhor). Começa, para eles e para nós, se decidimos acompanhar Jesus, o difícil caminho da fé, até chegar a “hora” que será aquela da cruz. Esse será o supremo “sinal” do inaudito. Jesus entregará a própria vida. Até esse ponto, chegam a fidelidade, o compromisso e o amor de Deus com o seu povo. Será o “vinho-sangue” da nova aliança.
O segundo sinal que envolve Maria, a mulher-mãe, é a “festa” que o vinho melhor, servido depois, não deixa acabar. Esse sinal ilumina o sentido da transformação da água em vinho. A vida de Jesus não será algo fácil, enfrentará provações, infidelidades e a derrota final. Contudo quem crer nele experimentará alegria (Jo 16,22), paz (Jo 16,33) e vida em seu nome (Jo 20,31). A página das bodas de Caná é rica demais. Está posta no início do evangelho como um pedido. O mesmo que Maria falou “aos que estavam servindo”: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5). Fazemos – ou deixamos de fazer – tantas coisas por sugestão, convite, imposição dos outros. Às vezes para agradar, outras por obrigação, outras, simplesmente, porque achamos que “todos fazem assim”. Nem sempre pensamos se vale a pena, se é justo, se é bom o que decidimos, ou não, fazer. De maneira especial, me refiro-me ao consumismo, mas poderíamos falar da oração. Deixamos de rezar porque temos coisas mais importantes para fazer ou optamos por ler ou escutar no celular o que outros pensaram e refletiram. Repetimos rezas que outros fazem para nós. É mais fácil que ficar em silêncio, fazer o nosso exame de consciência pessoal e a nossa oração espontânea. O evangelho deste domingo, oferece-nos uma luz interessante: a alegria da festa. Os amigos da historinha, na dúvida entre pregar uma peça ao velho ou fazê-lo feliz, escolheram a segunda opção e ficaram alegres também. O “vinho” do amor e do bem é sempre novo e melhor.