Durante as férias, um jovem saiu passeando pela floresta que se estendia ao lado da vila onde ele morava. Depois de muito caminhar, sentiu-se perdido. Na tentativa de encontrar o caminho de volta, experimentou muitos atalhos, mas nenhum o conduzia para fora. Enfim, encontrou outra pessoa que, como ele, andava na floresta. Gritou: – Graças a Deus, encontrei alguém. Pode me indicar o caminho para voltar à aldeia? O outro respondeu: – Infelizmente, também me perdi. Mas há uma maneira de nos ajudarmos, ou seja, vamos dizer um ao outro os caminhos que já experimentamos inutilmente. Assim, estaremos mais próximos daquele que nos tirará daqui.
No Segundo Domingo da Quaresma sempre encontramos a página do evangelho daquela que é conhecida como a “transfiguração”. Domingo passado, a Liturgia nos fazia conhecer a humanidade de Jesus e o combate que teve que enfrentar, ao longo de vida toda, para chegar até o final da missão que o Pai lhe tinha confiado. Neste domingo, Jesus nos é apresentado de outra forma que poderíamos chamar “gloriosa”. A “luz” está nele, mas a glória também evolve Moisés e Elias, aqueles que representam “a Lei e os Profetas”, as Escrituras. Nelas está narrado o longo caminho percorrido pelo povo eleito até então. Agora, as manifestações de Deus e do seu amor, as suas palavras de alerta e correção, mas, muito mais, de misericórdia e bondade, serão ditas e vividas pelo Filho, humanamente presente na história. Assim diz a voz dentro da nuvem: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz” (Lc 9,35). Os três apóstolos experimentam alegria e medo ao mesmo tempo. Querem ficar naquele lugar, porque é bom estar aí, mas, ao serem cobertos com a sombra da nuvem, se sentem perdidos. A conclusão pode ser simples: para entender Jesus precisamos “frequentar” as Escrituras, mas, agora, é ele mesmo que ensina, com as palavras, os gestos e, definitivamente, com sua paixão e morte. Sem passar pelo escândalo da cruz e do amor total que ela revela, não podemos entender a glória da ressurreição. Esta não é o “final feliz” da história de Jesus e nem o prêmio por ele merecido. A ressurreição é a confirmação do Divino Pai, daquilo que Filho Jesus ensinou, fez e sofreu, guiado pelo Espírito Santo. Esse é o caminho certo para dar um sentido a toda e qualquer existência humana.
Mais uma vez, neste tempo de Quaresma, somos convidados a refletir sobre a nossa vida e o nosso jeito de gastar o tempo e os dons que Deus nos entregou com tanta generosidade e confiança. Podemos pensar na nossa história pessoal, mas também na história da própria humanidade. Parece que ainda estejamos perdidos sem saber por onde ir. O que aprendemos com os sofrimentos e as destruições das guerras do passado? Quantas energias e riquezas gastamos para planejar o aniquilamento dos inimigos, também se a desculpa é sempre a de nos defender dos demais, como se eles nos cercassem e sufocassem, e a única solução fosse mesmo o seu desaparecimento. O silêncio da morte não é a paz. Do cultivo do ódio e das divisões nunca vai brotar a amizade. Da desonestidade, da exclusão social e dos injustos privilégios nunca vai florescer a fraternidade.
Nós, que nos dizemos cristãos, precisamos avaliar a nossa vida, os pensamentos que escondemos, os sentimentos que acalentamos. “Escutamos”, ou seja, interiorizamos as palavras de Jesus? O que tiramos do tesouro do nosso coração? Notícias boas para a alegria de todos ou ameaças, julgamentos e condenações? Jesus apontou os pecados para salvar os pecadores. Não adocicou o seu mandamento do amor para que pudéssemos ser livres de amar ou de odiar quem quiséssemos. Disse para amar até os inimigo e abençoar os que nos perseguem. Apontou o bom samaritano como aquele que se fez próximo do desconhecido quase morto que encontrou no chão. Deveríamos nos ajudar mais uns aos outros. Talvez todos, de uma maneira ou de outra, estamos perdidos na floresta da vida, mas poderíamos colaborar mais e, assim, errar menos. Até encontrarmos, juntos, o caminho certo. O Caminho da Verdade e da Vida: Jesus.