Deixei de refletir um pouco sobre a Campanha da Fraternidade deste ano, neste Quinto Domingo da Quaresma, porque a página do evangelho de João que nos é apresentada é o texto iluminador do tema escolhido: Fraternidade e Educação. No cartaz são bem visíveis as palavras que Jesus escreve no chão: amor e sabedoria. Na verdade, não sabemos o que Jesus escreveu, mas o autor do cartaz achou por bem colocar essas duas palavras que estão no lema da campanha. Liberdade dos artistas. Junto com o tema quaresmal da misericórdia de Deus, manifestada em Jesus, podemos ler esta página do evangelho como um exemplo da forma com a qual ele ensinava. A situação é claramente uma armadilha. Aos acusadores da mulher, “surpreendida em adultério”, de fato, não interessava o destino dela. Pela lei de Moisés, ela não tinha saída, devia ser apedrejada. Os mestres da Lei e os fariseus, porém, querem que Jesus se pronuncie sobre tal decisão. O mestre ensinará a obediência à autoridade suprema da Lei ou não? Jesus toma tempo, escreve algo no chão. Eles insistem e Jesus, erguendo-se, diz aquelas palavras que bem conhecemos: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Ninguém atirou pedras e todos foram embora a começar pelos mais velhos.
O ensinamento de Jesus foi um convite claro à reflexão de cada um. Não escolheu a aplicação de uma lei fria e anônima na ilusão de eliminar o mal matando as pessoas que podem ter errado. Com amor e sabedoria, Jesus fez que todos reconhecessem que maldades e violências estão presentes na vida de cada um e que, portanto, todos devemos buscar um caminho de conversão porque, de alguma forma, todos somos responsáveis pelo mal e pelas injustiças que existem no mundo. A vitória sobre o pecado, somente virá com o compromisso e a colaboração de todos os que se dispõem a praticar o amor e a justiça. Sem esquecer que essa novidade de vida sempre será um dom de Deus, que deve ser pedido e desejado de coração sincero. Jesus é educador, também, com a mulher. Ela ouviu as palavras dele e se o resultado foi a vida e não a morte, é porque ela, como os demais, devia aprender a não julgar, a não condenar. Jesus também não a condena. Deixa-a ir em paz para que ela viva uma vida nova, livre para amar e ter compaixão dos pecadores para que outros experimentem a misericórdia de Deus e dos irmãos como ela experimentou. O “não peques mais” de Jesus é um convite a ser ela mesma testemunha da bondade de Deus e, assim, ensinar o perdão e a paz.
Esse “envio-convite” de Jesus vale para todos nós. Somos todos fracos e pecadores, mas podemos aprender e ensinar valores que ajudem a melhorar a nossa vida, a construir o bem comum, a promover e a preservar a existência de todos os seres vivos do planeta. Precisamos ser aprendizes e educadores ao mesmo tempo, dar valor à vida, o primeiro dom que todos recebemos. É maravilhoso ficar encantados com as belezas da natureza e dos frutos da fraternidade e da paz. É urgente nos educarmos ao respeito das diversidades, à tolerância, ao diálogo e à colaboração fraterna.
Com a proposta de um Pacto Educativo Global, Papa Francisco nos conclama a unir as melhores forças para sermos construtores de uma nova humanidade que possa ser feliz de viver neste planeta. Não podemos ficar indiferentes e nos conformar com a destruição, a exploração dos recursos naturais até a exaustão, ao consumo desenfreado, ao abismo que continua separando os que podem esbanjar milhões daqueles que morrem de fome. Hoje, a “sabedoria” só pode ter o gosto do encontro, da acolhida, da compaixão com quem sofre, da busca conjunta de novos caminhos de paz. Quem ensina a jogar pedras, ou bombas, para defender os seus privilégios, o seu bem-estar, o seu poder, não ama a humanidade, está construindo um mundo de ódio e divisões. O “amor” não se ensina com palavras e discursos, mas com o exemplo, doando a própria vida, tornando-nos, todos, mais próximos uns dos outros. A educação para a fraternidade e a paz é sempre um desafio, uma missão e uma aprendizagem ao mesmo tempo. Mas vale a pena.