Reflexão para o 33º Domingo do Tempo Comum | 13 de Novembro 2022 – Ano “C”
Por Dom Pedro José Conti
Certo dia, como de costume, Madre Teresa de Calcutá foi à cozinha para ajudar. Ao chegar lá, perguntou a todos os presentes se haviam rezado. Depois, foi se juntar ao voluntário que lavava as folhas da salada. Repetiu para ele a pergunta e disse:
– Sabe porque é importante rezar? Porque o fruto do silêncio é a oração, o fruto da oração é a fé, o fruto da fé é o amor e o fruto do amor é o serviço.
O jovem voluntário, que hoje é padre e relata este diálogo, ficou curioso e, por sua vez, perguntou:
– Madre, e qual é o fruto do serviço? Parecia que Madre Teresa não tivesse entendido, demorou um pouco para responder, mas depois sorrindo falou:
– O fruto do serviço é a alegria!
Chegamos ao 33º Domingo do Tempo Comum e, como sempre no final do ano litúrgico, encontramos páginas evangélicas nas quais Jesus parece falar daquilo que irá acontecer na história humana e, sobretudo, aos seus amigos. Eu disse: “parece” porque as palavras de Jesus, mais do que uma descrição de acontecimentos, são um alerta. O primeiro aviso diz a respeito a possíveis novos “messias” que irão se passar por ele. Cuidado para não se deixar enganar. O segundo aviso é um convite à perseverança nas perseguições e à confiança nele: os inimigos não resistirão às palavras acertadas dos discípulos e esses, “permanecendo firmes” ganharão “a vida”. De fato, quando os evangelhos foram escritos, os primeiros cristãos já estavam experimentando dificuldades. Em vários lugares eram expulsos das sinagogas pelos judeus e perseguidos pelos governantes. Por isso, a Igreja sempre teve muito respeito e devoção pelos mártires. No entanto, sabemos, que o Evangelho ganhou espaço e povos inteiros se tornaram cristãos. “Todos vos odiarão por causa do meu nome” (Lc 21,17), se não mesmo “todos”, porém, o martírio continua presente na história do Cristianismo e, ainda hoje, temos irmãos e irmãs que arriscam a própria vida por causa da fé no Senhor.
De alguns anos para cá, o papa Francisco proclamou este domingo como Dia Mundial dos Pobres e sempre nos propõe uma bela reflexão, além de nos convidar a não nos esquecermos deles e a dar-lhes, também, um rosto para que a nossa oração e o nosso compromisso não fiquem anônimos e vazios. Na prática, são os pobres do planeta que sofrem as consequências das guerras, dos desequilíbrios climáticos, de um sistema que gera tanto lucro para poucos, mas muita fome e miséria para milhões. Seriam eles os “mártires” de hoje? Não por causa do nome de Jesus, mas pela indiferença e as injustiças que também nós cristãos acabamos gerando e nunca corrigindo como deveríamos. Talvez não sejamos diretamente responsáveis por tanta miséria, mas certa maneira de pensar e sonhar com uma vida cômoda, à busca de privilégios, consumo e o desinteresse contribuem a manter funcionante um conjunto de mecanismos excludentes e, por vezes, perversos. Por tudo isso, papa Francisco, na sua mensagem, diz que “a pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos”. Existe, porém, também uma pobreza libertadora: “é aquela que se nos apresenta como uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial”.
Conclui Papa Francisco: “Encontrar os pobres permite acabar com tantas ansiedades e medos inconsistentes, para atracar àquilo que verdadeiramente importa na vida e que ninguém pode nos roubar: o amor verdadeiro e gratuito. Na realidade, os pobres, antes de ser objeto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade”. A frase bíblica escolhida para este 6º Dia Mundial dos Pobres foi: “Certamente conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza” (2Cor 8,9). Como é possível enriquecer com a pobreza? Mais uma vez não será um enriquecimento de bens materiais, mas de virtudes e paz interior. Em lugar da insatisfação crônica experimentaremos a “alegria do serviço” a eles, como disse Madre Teresa de Calcutá.