MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o 16º domingo do Tempo Comum| 23 de julho de 2023 – Ano “A”
Um irmão falou para o antigo Pai Poimen:
– Quando dou um pouco de pão ou algo diferente ao meu irmão, os demônios desvalorizam a minha ação: teria sido dado para agradar o ser humano. O ancião disse:
– Mesmo que isso ocorra pela vontade de agradar, não deixemos de dar o necessário ao irmão. E lhes contou a seguinte parábola:
– Dois agricultores moravam na mesma cidade. Um deles só semeou poucas sementes, e essas não estavam selecionadas; já o outro desistiu de semear e não colheu absolutamente nada. Quando, pois, surgir o flagelo da fome, quem dos dois terá o suficiente para viver? O irmão respondeu:
– Aquele que semeou pouco e sementes não selecionadas. Então lhes disse o ancião:
– Deixa que semeemos pouco, mesmo que com sementes não selecionadas, para que não morramos de fome.
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No evangelho de Mateus, deste 16º Domingo do Tempo Comum, encontramos três parábolas do “discurso” de Jesus que iniciamos a ler no domingo passado. Todas elas são importantes e seria bom poder refletirmos sobre todas. No entanto, a mais famosa, que ganha uma explicação ainda no próprio evangelho, é a do joio e do trigo. Se identificamos o bem com o trigo e o mal com o joio, o Senhor quer nos dizer, em primeiro lugar, que eles estão juntos nos acontecimentos da história pessoal e da humanidade inteira. Ou seja, devemos levar em conta a realidade do mal que também cresce, dentro e fora de nós, muitas vezes sem ser logo percebido como algo de errado. Isso significa que, em certas situações e em certos tempos, o bem e o mal podem ser confundidos.
De fato, as espigas do joio são bastante semelhantes às espigas do trigo. Essa é a segunda consideração que devemos fazer. Porém, à medida que as espigas se tornam maiores, é mais fácil distinguir o joio do trigo. Jesus disse isso também de outra forma, quando ensinou que a árvore boa se reconhece pelos frutos bons e o contrário para a árvore má (Mt 7,15-20). Nesta altura, não é mais possível duvidar tanto e confundir o joio com o trigo, mas o que fazer? De acordo com a parábola, a vontade dos empregados seria arrancar logo o joio para salvar o trigo. O final da parábola surpreende.
A separação do joio e do trigo, do bem e do mal, não será agora, quando ainda as plantinhas estão crescendo, mas somente na hora da colheita. Naquele momento, sim, haverá o julgamento e a separação definitiva. A motivação do dono da roça para não deixar cortar logo e de vez o joio deve chamar a nossa atenção: cortando às pressas o joio, pode ser que os ceifadores acabem cortando também o trigo. Essa última consideração nos lembra que o julgamento final entre o bem e o mal será tarefa do “dono” da messe, mas, sobretudo, nos ensina a paciência, ou, talvez muito mais, a própria misericórdia de Deus que, até o fim, espera para não decidir só pelas aparências. Talvez o que parecia joio na realidade era trigo ou vice-versa. Teria sido cortado e jogado fora antes do tempo e punido injustamente.
A mensagem desta parábola é sempre extraordinária. É uma lição para os intolerantes, aqueles cristãos que apontam sem piedade os pecados dos outros a partir da própria suposta perfeição. Se déssemos ouvido a eles, na Igreja só teríamos os puros e os “santos” porque os pecadores seriam expulsos ou, de alguma forma, deixados às margens. A parábola, porém, é uma lição também para aqueles e aquelas que querem desistir da luta do bem contra o mal, por desânimo, por não ver logo os frutos do bem, por ter que fazer sempre as contas com as fraquezas humanas próprias e dos demais. A parábola não é um incentivo para fechar os olhos ou fingir que está tudo bem, quando não está. É um grande impulso a continuar a fazer o bem sempre, por pequeno, mal feito, limitado que seja.
Se for bem, mesmo, no final aparecerá. Gastamos muitas energias para apontar e querer corrigir os defeitos dos outros quando, ao contrário, deveríamos aprimorar mais a nossa fraternidade, a nossa comunhão, praticar o bem da melhor maneira possível. Sempre abertos à surpresa da bondade dos outros que, talvez, julgávamos já condenados. Não fiquemos “selecionando” o bem, nosso e dos outros, vamos praticá-lo.