MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o 19º domingo do Tempo Comum| 13 de agosto de 2023 – Ano “A”
Durante a aula de geografia, uma criança, em sua simplicidade, respondeu às perguntas da professora e disse: “A vantagem da longitude e da latitude é que quando estamos afogando podemos gritar em que longitude e latitude estamos e, assim, poderão nos encontrar”.
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O evangelho de Mateus, deste 19º Domingo do Tempo Comum, apresenta-nos uma situação inusitada e surpreendente, cheia de simbolismos e de mensagens. Com a costumeira arte narrativa dos evangelhos, as coisas vão acontecendo. Jesus decide se despedir das multidões depois de ter satisfeito a fome delas. Pede aos apóstolos que o precedam, de barco, para a outra margem do lago de Tiberíades. Ele fica sozinho para orar.
Aquela que devia ser uma simples travessia ameaça se tornar uma tragédia. Uma súbita ventania contrária agita as ondas e o barco dos discípulos não alcança a terra firme. Era mesmo para ficar com medo. Os experientes pescadores, porém, não gritam por causa das ondas. Ficam apavorados, porque na escuridão da noite enxergam uma figura humana caminhando ao encontro deles por cima das águas. Estava acontecendo algo evidentemente impossível para eles. O evangelista nos diz que o “fantasma” visto por eles era Jesus. O Mestre se aproxima e pronuncia palavras confortadoras: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!” (Mt 14,27). Mas isso não basta para eles acreditarem. Assim, Pedro desafia o desconhecido e pede para poder também caminhar sobre a água. Jesus aceita, mas o apóstolo ainda não venceu a insegurança e o medo e começa a afundar.
Contudo Pedro consegue dizer palavras que são um verdadeiro grito de fé: “Senhor, salva-me!” (v.30). Em resposta, Jesus o repreende porque foi fraco na fé e duvidou. No final os discípulos reconhecem quem é Jesus: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (v.33).
Desde quando Jesus chamou os primeiros seguidores e disse que faria deles “pescadores de homens”, foi fácil comparar aquela pequena comunidade – que hoje chamamos de Igreja – com um barco enfrentando as ondas, mansas ou agitadas, na travessia dos tempos. Muitas obras artísticas buscaram representar isso. Em geral, na proa do barco está Pedro e, às vezes, os seus sucessores.
No entanto, fica a pergunta à qual o evangelho deste domingo nos ajuda a responder: Jesus onde está? Não é ele o único, verdadeiro e “bom” pastor que conduz a sua Igreja? Sem dúvida alguma é assim! Contudo, depois da Ressurreição, o próprio Jesus entregou o dom do Espírito Santo e enviou os apóstolos para continuar a missão que o Pai lhe tinha confiado.
Desde então a Igreja de Jesus Cristo, animada pelo Espírito Santo, singra os mares da história enfrentando as inevitáveis turbulências da fragilidade humana. Devemos ser realistas e não ter medo. A comunidade Igreja sempre será formada por pessoas – hoje somos nós – que, ao mesmo tempo, são santas e pecadoras. Ambas essas realidades são visíveis, não só porque experimentamos isso todos os dias em nossas vidas, mas também como conjunto de irmãos e irmãs. Somos chamados à santidade, mas ainda temos que fazer as contas com as nossas imperfeições humanas. A “outra margem” não se alcança tão facilmente. Mais uma vez, o segredo para continuar a travessia é ter fé. Nunca ter receio de gritar a Jesus nas horas difíceis e nas horas de alegria também: “Senhor, salva-me”. Tem até um canto que diz: “Segura na mão de Deus e vai…”. O que acontece é que muitas vezes esquecemos disso.
Preferimos confiar mais nas nossas próprias forças ou recorrer a outros “salvadores” que se apresentam como capazes de solucionar todos os nossos problemas e, assim, confundem a nossa cabeça e esfriam a nossa fé. Segurar na mão do Senhor não significa que sempre vai acontecer o que nós pensamos e que ele vai fazer tudo o que nós pedimos. Não, não foi isso que Jesus prometeu e não é esta a Vida Nova daquele Reino que começa neste mundo, mas não acaba por aqui. Ter fé significa acreditar que nunca estamos sozinhos, ele está sempre conosco. Jesus não precisa de latitude e longitude para nos encontrar e salvar. Basta gritar com fé: “Senhor, salva-me!”