Cinco mil anos

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MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti

Reflexão para o 11º domingo do Tempo Comum| 16 de Junho de 2024 – Ano “B” 

“No túmulo de um dos antigos faraós do Egito encontraram um punhado de grãos de trigo. Eram velhos de cinco mil anos. Alguém pegou um daqueles grãos, o plantou e o regou. Com grande surpresa de todos, a semente estava viva e brotou. Depois de cinco mil anos.”
 
Sabemos que o evangelho de Marcos é o mais curto dos quatro evangelhos. Apesar de dizer que Jesus ensinava e explicava, não encontramos muitos discursos ou palavras dele. Significa que devem ser mais o agir dele e as diversas situações que ajudam a reconhecer a chegada do Reino de Deus e, assim, acreditar naquele que o está anunciando e o mostrando presente. 

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No evangelho do Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum, encontramos duas parábolas de Jesus com as quais ele apresenta a surpreendente realidade do Reino de Deus. A primeira parábola é própria do evangelista Marcos. Ela continua a apresentar a imagem da semente, como na bem conhecida parábola do semeador, mas com mais detalhes e uma belíssima novidade. De fato, o agricultor semeia, mas depois “vai dormir e acorda”, ou seja, os dias vão passando e “a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. 

A parábola segue com a descrição das etapas do crescimento da espiga, dos grãos que enchem a espiga, até a colheita. “A terra, por si mesma, produz o fruto”, eis um dos segredos do Reino de Deus: o agricultor não sabe como, mas existe uma força que, “por si mesma”, faz crescer a semente. Indiretamente, a parábola faz uma grande afirmação: o Reino de Deus cresce porque é “de Deus” e não pode não crescer. Essa consideração serve de introdução da segunda parábola, a da semente de mostarda que é bem pequena e, por isso, pode deixar dúvidas sobre a sua efetiva possibilidade de crescimento. No entanto, daquela sementinha surgirá uma grande “hortaliça”, capaz de abrigar os pássaros à sua sombra.
 
O anúncio do início e, portanto, da presença do Reino de Deus é a grande novidade de Jesus (Mt 4,17;Lc 17,21). Ela foi também a causa de inúmeras críticas e mal-entendidos. Aqueles que aguardavam um reino de poder e dominação ficaram decepcionados. Igualmente, aqueles que esperavam um reino somente de puros e rigorosos seguidores da Lei não suportaram a liberdade de Jesus a respeito da própria Lei e a sua misericórdia com os enfermos que curava e com os pecadores que perdoava. As parábolas de Jesus sobre o Reino servem para esvaziar – se podemos dizer assim – as falsas expectativas e, ao mesmo tempo, para abrir os novos e maravilhosos horizontes desse Reino. Basta lembrar a ousadia da primeira das bem-aventuranças que, em Lucas, reza assim: “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20).

Jesus surpreendeu a todos e ainda hoje a dinâmica do Reino é bem diferente dos esquemas que  explicam o funcionamento e a eficiência das organizações simplesmente humanas. As duas parábolas do evangelho deste domingo, que têm como exemplo a semente, desafiam a lógica do planejamento, da previsibilidade e da eficácia tão privilegiada por aqueles que visam a garantia do lucro e não conhecem a potência da gratuidade e do amor. O Reino de Deus tem uma “força” que o faz crescer, porque é, acima de tudo e muito além do esforço humano, um dom. Isso não significa que não haja, também, a nossa pequena colaboração, mas essa deveria ser mais no sentido da generosidade e da confiança que dos cálculos e da organização. Todo “presente” é mais bonito, quando supera as nossas expectativas e nos deixa encantados! 

O pequeno grão de mostarda, que se torna grande hortaliça, é também sinal de um Reino aberto e acolhedor. Os ramos com a sua “sombra” oferecem abrigo e descanso para quem precisar sem discriminações ou exclusões. Se depois imaginamos a alegria dos pássaros cantando, melhor ainda fica a imagem daquele crescimento inesperado. Deveríamos arriscar e confiar mais na “força” do Reino. Se os grãos do tempo dos faraós brotaram, por que duvidar das “sementes” do Reino de Deus semeadas em nossas vidas desde o dia do nosso Batismo?

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