O nobre e o pão

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MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti

Reflexão para o 17º domingo do Tempo Comum| 28 de Julho de 2024 – Ano “B” 

Um nobre mandou açoitar um dos seus camponeses. Quando o rei soube disso o condenou a ficar sem pão. O nobre protestou:

– Majestade, o pão é indispensável.

– Então – respondeu o rei – por que você maltrata quem o procura a você e à sua família?

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A partir deste domingo, 17º do Tempo Comum, até o 21º do Tempo Comum, com exceção da solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria, deixaremos o evangelho de Marcos e proclamaremos trechos do evangelho de João, todos tirados do mesmo capítulo, o sexto. Começamos com aquela página que estamos acostumados a chamar de “multiplicação dos pães e dos peixes”.

Podemos dizer, logo, que esse episódio devia ser muito popular entre os seguidores de Jesus das primeiras comunidades, porque o encontramos em todos os evangelhos, também se com algumas diferenças. Outra situação que já conhecemos é que o evangelista João coloca a sua reflexão, ou catequese, sobre a Eucaristia justamente nesse capítulo.

Na última ceia, ele nos apresenta o gesto do lava-pés, como sempre lembramos na Quinta Feira Santa. Retomamos, assim, o ensinamento dos primeiros tempos da Igreja quando, aos poucos, estava se formando a compreensão dos gestos e das palavras de Jesus e, de maneira especial, do “memorial” que ele tinha mandado fazer e que era celebrado na Liturgia. Essa página do evangelho de João não é simplesmente uma oportunidade para explicar a Eucaristia em si, mas o caminho para entendê-la melhor e o primeiro fruto visível da sua celebração.

Reparamos logo que a iniciativa é do próprio Jesus. É ele que pergunta a Filipe onde será possível comprar o pão necessário para satisfazer a fome de tantas pessoas. Uma “prova” para o apóstolo, diz o evangelho. Com efeito, tendo dinheiro, a compra do pão resolveria o problema. Seria, digamos, a solução de sempre, não aconteceria nada de verdadeiramente novo. Ao contrário, Jesus quer que todos vejam que algo diferente é possível, também se difícil de acreditar.

Nada de dinheiro e nada de pedir ajuda a outros. O que eles têm na mão? Alguém está pronto para colocar o que tem à disposição dos demais? Um menino oferece cinco pães e dois peixes. É muito pouco para aquela multidão, mas é o que tem e, sobretudo, é o que alguém está pronto a doar, a partilhar com todos. Talvez fosse a comida de uma família, de um pequeno grupo. Eles confiam em Jesus, entregam tudo em suas mãos.

Começa o banquete. O lugar é bonito, cheio de grama, dá para se acomodar em paz, sem pressa, sem angústia, como quem senta à mesa entre amigos conhecidos. Jesus “tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados” (Jo 6,11). São os gestos da “Eucaristia” que significa “ação de graça”.

Com efeito, quando a celebramos, agradecemos ao Pai pelo dom do Filho que, com sua vida doada por amor, reconduz-nos à comunhão divina de uma vez por todas. O “milagre” da gratidão e da partilha foi tão grande que todos ficaram satisfeitos e ainda sobraram pedaços para encher doze cestos. Jesus mandou recolher as sobras dos cinco pães para que fosse lembrado como tudo tinha começado.

O povo percebeu que algo extraordinariamente novo tinha acontecido. Jesus era, sim, “o Profeta” que devia vir ao mundo; ele estava ensinando o caminho da fraternidade, mas não lhe interessava ser rei, porque não buscava poder e glória para si mesmo.

Queria que todos aprendessem a ser irmãos, a partilhar, a se ajudar, servidores amorosos uns aos outros. Depois do lava-pés, ele disse que tinha dado o exemplo para que eles fizessem o mesmo (Jo 13,14-15). No fim, Jesus se retirou sozinho. O povo o encontrará de novo em Cafarnaum.

O primeiro passo para entender a Eucaristia é, portanto, a capacidade de partilhar a vida e os bens com os irmãos e irmãs, sobretudo os pobres e os famintos. Assim também São Paulo ensinou aos coríntios, dizendo claramente que quem banqueteava na ceia do Senhor, envergonhando o pobre, comia e bebia indignamente da Eucaristia (1 Cor 11,20-22.27).

Ainda hoje, são os pobres que asseguram o lucro dos ricos. Não devem ser humilhados nunca, menos ainda na hora da Eucaristia.

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