MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o 18º domingo do Tempo Comum| 04 de Julho de 2024 – Ano “B”
Num dia de sábado, Josué descobriu seu genro fumando.
– O que está fazendo, Abraão, não tem vergonha?
– O que foi querido sogro? – perguntou espantado o jovem.
– Como pode um hebreu esquecer que hoje é sábado?
– Mas eu não esqueci que hoje é sábado – foi a simples resposta do genro.
– E então o que aconteceu?
– Aconteceu que me esqueci de ser hebreu!
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No 18º Domingo do Tempo Comum continuamos a leitura do capítulo 6 do evangelho de João. Como já expliquei, outras vezes, esse evangelista tem um jeito próprio de nos comunicar a sua mensagem. O faz através de perguntas e respostas, comparações e mal-entendidos que permitem aprofundar o assunto. Por exemplo, na página do evangelho deste domingo devemos prestar atenção às palavras que acompanham os dois tipos de alimentos: “aquele que se perde” e “aquele que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27).
Após a multiplicação dos pães e dos peixes, quando todos ficaram satisfeitos, o povo continua a procurar Jesus. Ele entende o esforço daquelas pessoas para encontrá-lo novamente, mas as exorta a procurar um alimento novo, diferente. O próprio Jesus apresenta a si mesmo como esse “novo” alimento e diz: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Aparece claro, a essa altura, que Jesus não está mais falando de um alimento qualquer, perecível, como foi o maná que caiu do céu no deserto no tempo de Moisés.
Ele fala agora de um alimento novo para uma vida nova, a vida “eterna”, ou plena, que somente pode ser dom de Deus Pai que dá o “verdadeiro pão do céu” (Jo 6,32) enviando aquele que “marcou com o seu selo” (Jo 6,27). É nele, Jesus, que devem acreditar aqueles e aquelas que querem realizar “as obras de Deus” (Jo 6,29).
Refletindo sobre todas essas palavras bonitas do evangelho de João, o nosso pensamento vai imediatamente à Eucaristia que celebramos e da qual nos alimentamos como Jesus mandou fazer em memória dele. Os sinais são aqueles escolhidos do pão e do vinho, mas deve ficar claro que a celebração da Eucaristia nos quer conduzir muito mais longe em nossa vida de cristãos. Faz parte da nossa experiência saber que todos nós precisamos de alimentos e de bens materiais para sobreviver.
Alguns desses bens são absolutamente necessários, outros acabam se tornando indispensáveis conforme o nosso jeito de viver. O exemplo mais fácil é o da própria internet. Até alguns anos atrás nem sabíamos o que era, hoje ficamos angustiados se a velocidade e o tamanho do sinal não correspondem imediatamente às nossas expectativas. Também hoje funciona perfeitamente a chamada indústria da diversão.
Afinal ninguém é de ferro, precisamos nos divertir, relaxar, consumir aquilo que nos é apresentado como capaz de dar prazer e felicidade. Nem certas formas de religiosidade escapam dessa busca de bem-estar e de satisfação individual. Estamos esquecendo o essencial, ou seja, que a vida é muito mais do que tudo isso. Ela é feita, em primeiro lugar, de relações entre as pessoas com as quais nos confrontamos e nosos ajudamos a resolver as grandes questões da existência. Por ocupada que seja, é pobre e, talvez, vazia, a vida de quem não sente a falta dos seus pais, dos seus irmãos, de amigos com quem partilhar sonhos e esperanças junto com os medos e as decepções que todos enfrentamos.
Estamos fugindo das grandes perguntas das quais ninguém pode se esquivar, aquelas que dão sentido ao nosso amar, sofrer e, um dia, morrer. Celebrar a Eucaristia de Jesus é reconhecer nele alguém que viveu plenamente porque nunca buscou satisfações pessoais, mas passou neste mundo “fazendo o bem” a quem precisava. Ensinou que é doando vida aos outros que salvamos a nossa do vazio e do tédio.
Precisamos resgatar a nossa fome e a nossa sede de amor, de paz, de justiça e fraternidade. Por causa daquilo que passa e perece, do material e do virtual, estamos esquecendo do essencial. Acreditar e confiar em Jesus é ter a “certeza da fé”: só quando amamos realizamos “as obras de Deus”, um Deus que é amor, bondade e compaixão.