A semente rebelde

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MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti

Reflexão para o 3º domingo do Advento | 14 de Dezembro de 2024 

Certo dia, a discussão entre as sementes de uma árvore tornou-se mais acalorada. Era natural, pois colocava-se uma questão fundamental a todas: O que devo fazer? Os frutos estavam maduros e as sementes tinham que decidir sobre o próprio futuro. Uma semente dizia:
– Daqui não saio, estou tão bem aqui. Uma outra rebatia: 
 – Mas não percebes que se não saíres daqui e não caíres na terra, nunca serás uma árvore? Por fim, tomaram a decisão de se deixar cair por terra, perto da árvore a que pertenciam. Porém uma daquelas sementes recusou-se. Não aceitou cair no mesmo lugar. E dizia para si: “Por que eu deveria cair aqui onde o sabor do fruto ao qual pertenço já é conhecido? Prefiro cair num lugar onde o sabor não é conhecido; assim serei uma grande novidade”. Pensando dessa forma, esperou uma forte rajada de vento e lançou-se no ar, indo para além dos limites de onde nascera.


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No evangelho de Lucas do Terceiro Domingo de Advento encontramos João, chamado “o Batista” porque batizava as pessoas nas águas do rio Jordão. O batismo de João era um gesto de conversão e penitência. As multidões o procuravam e perguntavam: “O que devemos fazer?” (Lc 3,10). O Batista tinha uma resposta para todos e para alguns grupos específicos. Ao povo em geral ele pedia que praticassem a partilha do necessário para todos: comida e roupa. Aos cobradores de impostos pedia que praticassem a justiça não cobrando mais do que o estabelecido. Enfim, aos soldados pedia que não se aproveitassem da força da armas para extorquir dinheiro e que não espalhassem o medo com falsas acusações. Era um tempo de grande expectativa e vendo toda aquela mobilização o próprio povo se perguntava se João não seria o messias tão aguardado. O Batista responde claramente que não era o messias. Explica que o batismo dele era de purificação e que devia chegar outro “mais forte” do que ele que batizaria “no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). Com muita humildade João, o Batista, reconhece não ser digno nem de servir aquele que estava para chegar.
 
O evangelista Lucas aproxima bastante a pregação do Batista aos ensinamentos de Jesus e diz que o precursor “anunciava de muitos modos a Boa-Nova ao povo” (Lc 3,18). No entanto, não pode silenciar as diferenças entre os dois. Com efeito, João, o Batista, convida a todos a mudar de vida, mas, falando daquele que virá, o apresenta como alguém que julgará; ele separará o trigo da palha que será inexoravelmente queimada. Esse era o pensamento de João. Segundo ele e os seus seguidores, o messias esperado devia ser aquele juiz que puniria os errados e premiaria os justos. Mais tarde, Jesus usará palavras duras para desmascarar toda falta de amor ao próximo e denunciar a hipocrisia de certas pessoas aparentemente muito religiosas. Ele, porém, anunciou, em primeiro lugar, a misericórdia do Divino Pai e a possibilidade de resgate e de vida nova para os pecadores. Por isso, foi difícil acolher Jesus, porque foi um messias diferente daquele que estavam esperando: em lugar do poder e do castigo, o escândalo da cruz e o perdão.
 
Ainda hoje, muitos bons cristãos acham que a própria Igreja deveria ser menos tolerante e mais rigorosa, voltar a usar a ameaça da excomunhão e do inferno. Isso já aconteceu no passado, mas não foi esse o caminho que Jesus escolheu e praticou em sua vida terrena. Então, hoje vale tudo? Não, os pecados são sempre os mesmos, denunciá-los e corrigi-los é obrigação de todos. Mas antes precisamos começar conosco mesmo e apontar novos caminhos com o nosso exemplo e o nosso compromisso. Depois devemos usar sempre do remédio da misericórdia, porque a bondade e a aproximação fraterna conquistam mais que o desprezo e o afastamento. A chegada do Natal é sempre uma boa oportunidade para a reconciliação entre os irmãos que pararam de se falar, entre os grupos que se olham com raiva e desgosto. O amor é sempre novo e renova as nossas vidas. Peçamos, sem medo, uma rajada poderosa do vento do Divino Espírito Santo, para ir mais longe com o bem, como aquela semente que não queria repetir sempre o mesmo.

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