Reflexão para o 3º Domingo do Advento | 11 de Dezembro 2022 – Ano “A”
Por Dom Pedro José Conti
No verão de 1946, o boato de uma escassez de víveres espalhou-se por uma região de um país sul-americano. Na verdade, as plantações estavam indo bem e o tempo estava perfeito para uma colheita colossal. Mas, influenciados por aquele boato, 20.000 pequenos lavradores abandonaram suas terras e fugiram para as cidades. Por causa de sua atitude, as plantações foram malsucedidas, milhares passaram fome e o boato sobre a escassez de víveres tornou-se realidade.
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O evangelho de Mateus do Terceiro Domingo de Advento nos apresenta a pergunta que os discípulos, enviados por João Batista, fazem a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3) e, em seguida, a resposta dele. O questionamento do Batista pode ter uma explicação bastante simples que, em nada, diminui a missão do Precursor, mas ajuda a entender a novidade que Jesus apresenta. Já havia um bom tempo que o Mestre estava na sua atividade pública pelas cidades da Galileia, ensinando e curando. Como já vimos, talvez, João e os seus discípulos esperavam um “messias” rigoroso e ameaçador. Mas Jesus não estava nem falando e nem agindo assim. Daí a dúvida do Batista, apesar daquele primeiro encontro emocionante na beira do rio Jordão.
Algo novo demais estava acontecendo e, se não levarmos isso em conta, não entenderemos as críticas que Jesus recebeu dos diversos grupos religiosos e até a própria morte na cruz. Ele mesmo proclama “felizes” aqueles que não se escandalizam por sua causa. No entanto, outros grupos, menos importantes, os mais pobres, baseavam a espera deles, justamente, nos “sinais messiânicos”, que Jesus lista na resposta que dá aos enviados de João. Vamos lembrar quais são: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam” (Mt 11,5). Falta a última afirmação que ilumina todas as outras: “os pobres são evangelizados”.
Finalmente uma “boa notícia” para os pequenos, os humildes e os sofredores. Na pessoa do profeta da Galileia, Deus está manifestando a sua atenção e o seu compromisso com eles e elas. Sem dúvida, a pregação de Jesus é também um forte convite à conversão, a deixar os caminhos errados, a voltar a reconhecer Deus como o único Senhor digno de ser amado e servido. No agir dele, porém, o primeiro mandamento está estreitamente vinculado ao segundo: o amor ao próximo. Se lembrarmos a acolhida dos pecadores e o consequente perdão dos pecados praticado por Jesus, um Deus tão misericordioso era demais para aquele momento de rigoroso legalismo. Até hoje, nós mesmos, temos dificuldade a acolher a Boa Notícia de Jesus quando proclama o amor compassivo e misericordioso de Deus. Papa Francisco compara a Igreja a um “hospital de campo”, que acolhe os feridos da vida, e o confessionário não deve ser um tribunal ou uma câmara de torturas. Apesar do equívoco, Jesus elogia a grandeza de João, mas não deixa de colocar o “menor no Reino dos Céus” como maior do que o Batista.
Este tempo de preparação ao Natal quer nos ajudar a reconhecer como é o Jesus que estamos dispostos a acolher. Ele mesmo foi a Boa Notícia para os pobres. Se não ficamos animados e esperançosos com isso é porque não nos consideramos “pobres” e necessitados da sua misericórdia. Ou, talvez, cultivamos uma ideia de Jesus tão distante da nossa vida real, tão escondido atrás de palavreados e louvores ao ponto de não saber mais reconhecê-lo nos crucificados que estão à nossa frente. O Natal é uma excelente oportunidade para testemunhar a verdade sobre Jesus, a sua história e o seu jeito de viver. Apresentar “outros Jesuses” seria como espalhar boatos. Sabemos como começam, mas não sabemos como acabam. Somos nós mesmos a repetir a Jesus a pergunta de João Batista e a ouvir a sua resposta. Será ele o Salvador ou devemos esperar outro? Como será o Jesus que colocaremos no Presépio do nosso coração?