Os dois escravos

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MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti

Reflexão para o 21º domingo do Tempo Comum | 25 de Agosto de 2024 – Ano “B” 

Um rei tinha dois escravos muito capacitados, obedientes e prestativos. Um dia, por causa da fidelidade deles, quis premiá-los. Chamou o primeiro e lhe disse:

– Como recompensa do seu trabalho lhe dou a liberdade e uma boa quantia de dinheiro para viver bem com a sua família. Vá em paz! Depois chamou o segundo e lhe disse:

 – Como recompensa do seu trabalho lhe dou a liberdade. Quero, porém, que fique aqui comigo como meu conselheiro e amigo.

Depois disso, os dois antigos escravos se encontraram e partilharam as decisões do rei. Apesar da liberdade e do dinheiro, o primeiro não ficou satisfeito e voltou com o rei para saber das razões do tratamento desigual. Logo perguntou:

– Senhor, o meu serviço não era tão bom como aquele do outro, por que esta diferença? O rei respondeu:

– Você tem razão, o serviço de ambos sempre foi excelente, mas você me obedecia por medo de ser castigado. Desejava a liberdade. Foi o que lhe dei. O outro, ao contrário, sempre obedecia para ter, em primeiro lugar, a minha estima e a minha amizade. Por isso, eu quis ficar com ele.

:: Leia outros artigos de Dom Pedro Conti ::

No evangelho de João deste 21º Domingo do Tempo Comum, chegamos à conclusão do capítulo 6, cujo assunto principal, é bom lembrar, é a apresentação de Jesus como “o pão descido do céu”, “o pão da vida”. Nos versículos anteriores, Jesus afirma que o sinal do pão, é “carne” – ou seja o corpo-vida – dele – e é verdadeiro alimento para os que acreditam. Igualmente, o sinal do vinho – o sangue-vida derramado na cruz – é verdadeira bebida. 

Para entender essa passagem do “pão” (e vinho) para “a carne e o sangue” precisamos confrontar as duas afirmações que encontramos em João 6,51: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente” e em João 6, 54: “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. 

Esse jeito de falar gera a dúvida dos judeus que não compreendem o sentido do sinal do “pão” e se perguntam: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” (Jo 6,52).  Os discípulos também não entendem e dizem que é uma palavra “dura” demais: “Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Acreditar, de verdade, é exigente, pede escolhas. “A partir daquele momento, muitos discípulos”, diz o evangelho, “voltaram atrás e não andavam mais com ele” (Jo 6,66). Por isso, Jesus pergunta aos doze se também querem ir embora. 

A resposta de Simão Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68) além de uma declaração de fé no “Santo de Deus”, é o reconhecimento dele como presença e fonte daquela vida plena que somente Deus pode dar.

O nosso pensamento vai de imediato a quantos passaram e passam pelas nossas paróquias, comunidades, grupos e movimentos, a quantos recebem os sacramentos, e depois… não participam mais. Jesus não obriga ninguém a segui-lo contra a sua vontade ou por medo. Mas ele, também, não quer seguidores de qualquer jeito. Conseguimos acompanhar Jesus – mais ou menos e cada um com o seu jeito – somente se reconhecermos nele “palavras de vida eterna”, ou seja, algo que possa realmente abrir novos horizontes para a nossa existência. 

Todo o esforço da Igreja com a sua organização e as suas atividades, de fato, deve ter uma só finalidade: anunciar a fé em Jesus de uma forma que permita o encontro livre e pessoal com ele. Devoções, costumes, conjunto de doutrinas, planejamentos, tudo pode ajudar, mas nada substitui a nossa adesão consciente e responsável à pessoa de Jesus. 

É ele que precisamos conhecer mais e melhor. É a sua palavra e o seu exemplo que devem ecoar em nossa consciência, quando somos chamados a tomar as grandes decisões da nossa vida, quando exultamos e agradecemos pelas metas alcançadas. Contudo, é com o tempo que passa, no serviço cotidiano, cansativo e rotineiro, na fidelidade humilde e escondida, na oração e no silêncio da nossa secreta interioridade, que amadurecemos a amizade com Jesus. 

Se formos cristãos por amor ao Senhor e não para aparecer ou para ganhar alguma coisa, será ele mesmo a nos chamar, um dia, de amigos seus e não mais de servos (Jo 15,15). 

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