MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o Domingo da Festa da Apresentação do Senhor | 02 de Fevereiro de 2025
Quando o outro não faz é preguiçoso. Mas quando você não faz… é porque está muito ocupado. Quando o outro se decide a favor de um ponto, é cabeça dura. Mas quando você o faz… está sendo firme. Quando o outro fala sobre si mesmo, é egoísta. Mas quando você fala… é porque precisa desabafar. Quando o outro se esforça para ser agradável, tem segundas intenções. Mas quando você age assim…é gentil. Quando o outro progride, teve oportunidade. Mas quando você progride…é fruto de muito trabalho. Quando o outro luta pelos seus direitos, é teimoso. Mas quando você o faz…é prova de caráter. Etc. etc. etc. Só olhamos para nós. Como é difícil ver o bem e as qualidades dos outros.
Neste domingo, a liturgia da Festa da Apresentação do Senhor, quarenta dias após o Natal, prevalece sobre a do Quarto Domingo do Tempo Comum. O evangelho de Lucas nos fala de Maria e José que vão ao Templo de Jerusalém para cumprir a lei que exigia o resgate dos primogênitos. Para o sacrifício, eles entregam aos sacerdotes a oferta dos pobres: dois pombinhos. Era uma pequena família como muitas outras que deviam estar lá para cumprir a mesma obrigação. Nada de extraordinário.
No entanto, eis que aproximam-se dois idosos: Simeão e Ana. Ambos frequentavam o Templo praticando orações e jejuns. O evangelho não relata as palavras de Ana, somente nos diz que louvava a Deus e falava “do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2,38). De Simeão sabemos mais. Foi “movido pelo Espírito Santo…tomou o menino nos braços e bendisse a Deus” (Lc 2,27-28). Reveladoras são as suas palavras. Simeão diz estar disposto a partir, porque agora viu com os seus olhos a salvação que Deus preparou para todos os povos. Declara com palavras solenes que aquela criança será “luz para iluminar as nações e glória do povo de Israel” (Lc 2,32).
Aquele menino será, porém, também um “sinal de contradição”, de queda ou de reerguimento. Serão revelados os pensamentos de muitos corações a favor dele ou contra. Por fim, Simeão profetiza para a mãe de Jesus, que uma espada lhe traspassará o coração. Palavras enigmáticas naquele momento, mas que Maria guardou em seu coração junto com todos aqueles acontecimentos (Lc 2,51).
Quando nasceu João, que depois será o Batista, todos se perguntavam: “O que virá a ser este menino?” (Lc 1,66). É bastante fácil perceber que as narrações do evangelista Lucas, de fato, querem suscitar a nossa curiosidade a respeito daquele outro menino que ainda devia nascer. A página do evangelho deste domingo nos prepara para conhecer melhor a pessoa e a missão de Jesus. Começamos pelo “sinal de contradição”.
Jesus não é somente um divisor de águas entre o Antigo e o novo Testamento, entre a religião dos judeus e a fé cristã. Com o seu mandamento do amor e o seu jeito de amar, fiel até a cruz, ele nos obriga, no melhor sentido da palavra, a tomar a maior decisão da nossa vida. Todos nós podemos procurar ser felizes sozinhos, zelando pelo nosso bem-estar individual, ou gastar a nossa vida para alegrar a existência de outros, praticando o bem e a justiça e servindo de maneira especial os irmãos mais necessitados corporal e espiritualmente. Simeão fala daquele menino como “luz das nações”.
Nós acreditamos nisso, mas, alguns anos atrás, houve quem dissesse que a Coca Cola era mais conhecida que Jesus Cristo. Talvez ainda hoje. A fé não é um produto comercial, que se pode vender ou comprar. A verdadeira “propaganda” dela vai além das palavras, depende do nosso testemunho de vida. Cabe a nós cristãos provar com as nossas escolhas se Jesus é mesmo a luz que ilumina o caminho da nossa vida ou não.
É significativo que Simeão e Ana, os dois idosos, não falem deles ao Menino, não peçam nada para eles. Ficam felizes por ter encontrado e reconhecido o Salvador e agradecem a Deus por isso. Para falar bem de alguém, ou de nós mesmos, não precisa falar mal dos outros, como se isso diminuísse os nossos defeitos. Sejamos cristãos que conhecem tão bem o Senhor ao ponto de estar sempre prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que a pedir (cf. 1Pd 3,15).