MACAPÁ (AP) – Por Dom Pedro José Conti
Reflexão para o 7º Domingo do Tempo Comum | 23 de Fevereiro de 2025
Certa vez, um pai passeava pelas ruas da cidade com os seus dois filhos. Eles estavam chorando e de cara fechada. Um conhecido, ao encontrá-los, perguntou:
– Qual é o problema com os dois meninos?
– É o mesmo problema do resto do mundo, respondeu o pai. Tenho três nozes e ambos querem duas.
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No evangelho de Lucas, deste Sétimo Domingo do Tempo Comum, encontramos diversos ensinamentos de Jesus. Ele nos chama a uma verdadeira revolução em nossos relacionamentos humanos e… econômicos. Nos pede para amar os inimigos, fazer o bem àqueles que nos odeiam e falam mal de nós, de não pedir de volta o que nos foi tirado. Devemos abençoar aqueles que nos amaldiçoam e oferecer a outra face a quem já nos esbofeteou de um lado.
Jesus nos diz que amar somente aqueles que nos amam, fazer o bem a quem o faz para nós, emprestar dinheiro a quem temos certeza pagará a dívida, não tem nada de novo. Qualquer pessoa pode agir assim. Até os pecadores fazem negócios desse jeito. Afinal, é uma questão de troca de favores e prestações. Ninguém quer perder nada e, assim, vivemos na defensiva, sempre atentos para não sermos enganados. Jesus nos pede para agirmos de uma maneira diferente, mais corajosa, inesperada, capaz de surpreender.
Isso porque a referência dos “filhos do Altíssimo” não pode mais ser a esperteza do mundo, mas deve ser, nada menos, que a misericórdia de Deus. Ele é um Pai “bondoso também para com os ingratos e os maus” (Lc 6,35). Na manifestação das nossas opiniões a respeito dos outros não devemos julgar e nem condenar. Devemos usar de uma medida larga, abundante de compreensão e perdão, porque com a mesma medida serão também avaliadas as nossas ações.
Após ter escutado essas palavras de Jesus, somos tentados a pensar que ele foi um profeta visionário, que tinha muita imaginação e vivia fora da realidade. No entanto ele nos deu o exemplo quando perdoava os pecadores e, sobretudo, quando invocou a misericórdia do Pai para aqueles que o crucificavam. Talvez sejamos nós a não saber mais acreditar que algo diferente possa acontecer nesta sociedade, onde sobram disputas, violências e injustiças e faltam demais fraternidade, solidariedade e paz.
Continuamos a querer possuir mais, na ilusão de sermos mais felizes pelo poder ou os bens materiais que acumulamos. O chamado “bolo” das riquezas talvez continue crescendo, até quando o planeta Terra aguentar. Mas quando será partilhado de forma justa e respeitosa da dignidade de toda pessoa humana? Ainda no evangelho deste domingo, Jesus nos mostra o caminho. É a bem conhecida “regra de ouro”: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6,31). Se queremos amor sincero, devemos também oferecer amor sem outra finalidade que o bem de quem dizemos amar.
Se tratamos mal o nosso próximo ou o excluímos com a nossa insensibilidade e indiferença, não podemos pretender atenção e ajuda quando precisarmos. Podemos esperar carinho se semeamos afeto e ternura. Quem não sabe renunciar nem a uma noz para alegrar o irmão e semear união, dificilmente encontrará um ombro para se apoiar na hora da privação.