Durante a construção de uma catedral, o mestre de obra e os melhores artesãos trabalhavam em oficinas instaladas no interno do canteiro. Certo dia, apresentou-se ao mestre um jovem desconhecido que também se dizia artesão. Pediu para trabalhar, mas o chefe lhe disse que não precisava, porque já havia pessoal suficiente e todo especializado. O jovem insistiu:
– Não quero trabalhar as pedras, somente gostaria de fazer um vitral, usando as peças descartadas pelos outros. Basta-me um cantinho, não lhe darei nenhuma despesa. O mestre lhe permitiu que usasse uma barraca velha e abandonada, perto do local onde descarregavam todos os materiais inúteis. Os meses passaram e o pessoal quase se esqueceu do jovem que trabalhava tranquilo em silêncio. Chegou, porém, o dia em que ele colocou para fora a sua obra secreta. Era um vitral de incrível esplendor. Ninguém antes tinha visto cores tão luminosas. Era o vitral mais encantador de todos os demais da nova catedral. Todos queriam saber onde ele tinha encontrado pedaços de vidro tão brilhantes. O jovem estrangeiro respondia:
– Encontrei os fragmentos espalhados por aí, onde trabalhavam os operários. Esse vitral é feito com os pedaços que foram descartados como inúteis.
Neste 4º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do capítulo 4 do evangelho de Lucas. Estamos ainda na sinagoga de Nazaré e Jesus acabou de ler o trecho do profeta Isaías. Quem fazia a leitura podia também fazer um breve comentário. As palavras de Jesus foram: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. (Lc 4,21). Muita coragem e ousadia por parte dele, sem dúvida. Grande surpresa dos presentes, fascinados com as palavras que estavam ouvindo. O encanto, porém, durou pouco. Logo vieram os questionamentos e as pretensões. Reconheceram naquele homem o mesmo Jesus que ali, em Nazaré, tinha se criado. Na vila, viviam familiares e colegas dele. “Quem você acha que ele é?”. Com certeza, essa foi a pergunta que se espalhou rapidamente. Jesus respondeu assumindo a missão de “profeta”, ou seja, de alguém que fala em nome de Deus e, portanto, como todos os profetas do passado, o anúncio que trazia ecoava em Israel, mas também além das suas fronteiras históricas e geográficas. Não importa se esta mensagem será acolhida ou não. A “missão” do profeta é “falar” com a palavra e a vida.
A fama de Jesus, que havia se estabelecido em Cafarnaum, já se espalhara e, com certeza, despertava o ciúme e a inveja dos habitantes de Nazaré. Com mais propriedade, podemos dizer que a atividade de Jesus e a sua pregação “aos pobres” não correspondiam à imagem de “ungido” que circulava naquele momento. Esperavam um messias poderoso e triunfador, mas Jesus se apresentava como pobre, amigo dos pequenos e sofredores. Além de tudo, ele era fraco, porque iniciava a sua missão das periferias, bem longe dos centros do verdadeiro poder. Em lugar de se questionar, de procurar entender mais e melhor o que estava acontecendo, os conterrâneos de Jesus, que afinal representam muitos outros que virão depois, decidiram expulsá-lo da cidade. Assim acontecerá ao longo de toda a vida de Jesus e, pelo jeito, acontecerá sempre. Como tinha dito Simeão na apresentação dele ao templo: “Este é destinado a ser… sinal de contradição” (Lc 2,34).
Não adianta esconder. Nos nossos dias, também, muitos consideram Jesus e a sua mensagem uma questão do passado, perdida há muito tempo. Talvez um discurso bonito, sentimental, ao qual recorrer numa hora difícil, mas que pouco ou nada traz de real e concreto. Fraternidade, compaixão, misericórdia, não enchem o bolso de ninguém. Todos nós, cristãos de ontem, de hoje e de amanhã, continuamos a ser desafiados a confiar ou não na Boa-Nova de Jesus. A tentação de jogar tudo fora é sempre muito grande. No entanto, os pobres e os pequenos, os descartados da sociedade, que, aqui e acolá, juntam as palavras de Jesus, constroem algo novo, brilhante, de cores nunca vistas. Agem no silêncio. Não divulgam, porque não disputam fama e sucesso com ninguém. Basta-lhes a luz do amor. A mesma luz de Jesus.